A ideia de um comício é bastante simples: o líder político sobe ao pódio, discursa sobre os feitos do seu governo e espera que a plateia o aplauda calorosamente. Mas parece que, pelo menos em Nampula, esta receita não está a funcionar. Pelo contrário, o que tivemos foi um verdadeiro coro de vaias e um barulho que faria inveja a um concerto de rock.
Nyusi tentou, com toda a sua coragem, prosseguir com o discurso, mas as vaias e o barulho incessante eram implacáveis. Parece que o povo está determinado a não dar-lhe trégua e a mostrar o seu desagrado de forma estrondosa.
A situação chegou a um ponto em que o Nyusi se viu forçado a descer do pódio e tentar acalmar os ânimos da população. Imagino a sua frustração e perplexidade perante esta situação. Afinal, não é todos os dias que um líder máximo de um país se vê na posição de tentar “apagar o fogo” da revolta popular.
As vaias e o barulho não se acalmaram. Pelo contrário, a população continuou a fazer ouvir a sua voz de descontentamento. E, a certa altura, Nyusi percebeu que não valia a pena insistir. Decidiu então abandonar o pódio, deixando o discurso inacabado, e colocou-se à disposição dos jornalistas para uma breve interacção. Mas até essa tentativa foi interrompida por uma pergunta que tocou num ponto sensível: a crise na Frelimo.
O que podemos retirar deste episódio, meus caros amigos? Em primeiro lugar, é um claro sinal de que a insatisfação popular está a atingir níveis preocupantes. As pessoas não estão satisfeitas com o rumo do país e estão dispostas a demonstrá-lo de forma ruidosa. E, em segundo lugar, demonstra que a comunicação política não se faz apenas com discursos ensaiados e promessas vazias. É preciso ouvir o povo, compreender os seus anseios e preocupações, e, acima de tudo, ser capaz de dar respostas eficazes.
É fácil culpar os manifestantes pela falta de decoro, mas a verdade é que as vaias são um grito de desespero, uma forma de dizer “estamos insatisfeitos e queremos mudança”.
Esperemos que este episódio sirva como um sinal para a classe política em Moçambique e que sejam tomadas medidas para resolver os problemas que estão a levar o povo às ruas. Afinal, como já dizia o poeta, “o povo unido jamais será vencido”.
Zito do Rosário Ossumane (Régulo de Inhassunge)