O que une Matsangaissa, Azagaia e Murupa?
André Matade Matsangaíssa completaria hoje, se a memória não me trai, 74 anos de vida! Nascido a 18 de Março de 1950, em Chirara, distrito de Manica na província de Manica e Sofala, morto em combate a 17 de Outubro de 1979 na Gorongosa, Sofala. o Comandante André Juntou-se à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) em 1972 na abertura da Frente de Tete, que atravessou o Zambeze e desceu para o 3.º Sector (província de Manica e Sofala). O General Hama Thay e o combatente recentemente falecido em Portugal, no exílio, Zeca Caliate fizeram parte dessa epopeia libertária!
Como muitos jovens Matsangaissa acreditou na epopeia libertária da Frelimo. Depois da independência, pelos seus atributos político-militares foi-lhe confiada a direcção do Quartel do Dondo (Centro de Preparação Político-Militar), onde foi Comandante, até ser acusado de desvio de material de guerra e levado para o Campo de reeducação em Sacudzo, arredores de Gorongosa. Sempre reclamou inocência.
De acordo com um dos participantes das primeiras incursões contra o governo Marxista Leninista da Frelimo, Rodrigo Carlos Guedes reporta na sua obra “No Centro do Vulcão, os segredos da guerra civil em Angola e da Fundação da Residtencia Nacional Moçambicana” (2021), Matsangaissa viria a ser liberto por um grupo vindo do Zimbabwe. Esta faria parte de operações posteriores a uma primeira operação mal sucedida de que faziam parte os nove (9) jovens pioneiros vindos da Rodésia, comandados pelo Brasileiro Pedro Marangoni.
Ainda de acordo o mesmo autor dentre os “internacionalistas” vindos da Rodésia faziam parte Pedro Marangoni, João Póvoa, Alex, Zeca Oliveira, Silva, Godinho, Graciano Zeca Oliveira, tendo um deles tombado na primeira operação contra a Zimbabwe Independent people’s Army (ZIPA) em território moçambicano.
De facto, em 1977 Matsangaíssa comanda outro grupo de moçambicanos no assalto ao Centro de Reeducação de Sacudzo, iniciando assim um novo capítulo da luta pela democracia e contra o regime Samora Machelista.
O que nos ensina André? Que a juventude não pode ficar refém dos dogmas de um grupo de pessoas que capturam as instituições e delas dispõem segundo os seus mais estranhos apetites e interesses. André mostra que as pessoas devem lutar pelos seus ideiais, não importa o preço a pagar, como e contra quem. Aliás já Newton nos ensinava numa das suas famosas leis de que “onde há Acção, haverá sempre uma relação mas mesmas proporções e em economia aprendemos que todas as decisões tem o seu preço, daí o surgimentos conceito “Opportunity Cost” ou seja “Custo Oportunidade”, que nos ensina que qualquer decisão ou omissão de decisão tem um certo preço que é a oportunidade perdida por termos tomado uma opção diferente da outra!
Onde vemos os ensinamentos do Comandante André? Na visão, coragem, integridade e entrega a pátria!
Visão porque André acreditou numa ideia quando muitos dos seus contemporâneos “abraçavam” o comunismo. Ele e outros jovens perceberam cedo que o Comunismo era um “crime contra a humanidade” e que tarde ou cedo seria erradicado do mapa mundi! Pensar nisso quando e numa altura em que a Guerra Fria estava no seu auge e nem os Americanos, nem os Europeus, fossem eles Britânicos, Alemães ou Franceses tinham a certeza de que ganhariam essa guerra é obra! Mostra e prova que André tinha uma visão profunda sobre as forças e leis que determinam a roda da história da humanidade!
Coragem porque acreditamos que ele não foi o único a ter essa visão! Mas pôr em prática um plano para lutar e derrubar um regime como o da Frelimo e seus mentores na União Soviética que era a segunda potência militar do plano exige muita coragem se tivermos em conta que André tinha apenas 27 anos quando se juntou a epopeia libertária e 29 quando morreu! Apesar de ter comandado a MNR percursora da Renamo por apenas dois anos o seu nome ficou indelevelmente marcado na história universal pois o movimento ficou conhecido como “Matsangas”, derivado de Matsangaissa, razão pela qual o seu nome perdura hoje como inspirador de uma coragem que poucos têm ou tiveram! André se levantou e combateu contra o absolutismo, totalitarismo e autoritarismo da Frelimo e hoje gozamos todos, incluindo a Frelimo e os seus membros a liberdade de dispor das suas vidas sem os ditames ideológicos do partido, apesar “dos quereres que devem ser queridos”!
Hoje se as pessoas são minimamente livres (tirando os excessos Rafaelistas), é graças a coragem e bravura deste e de outros jovens que sacrificaram sua juventude e suas vidas para defender uma causa e um ideal libertário! André fora comandante na Frelimo, mas foi preso pela intriga dos seus camaradas, e se revoltou mais tarde contra os excessos do sistema que estava a ser implantado pela Frelimo.
Hoje jovens do meu país, assistem ao despontar de mais focos de coragem expressas em muitas formas contra os ditames absolutistas ou grupistas de um partido que se revela fora do tempo, mas que sobrevive pela ganância de pessoas que ontem disseram que queriam e lutavam para “libertar a terra e os homens”, mas hoje impedem esses mesmos homens de se manifestar, de trabalhar de comer e até de viverem nas terras dos seus avós.
Do lado dos “Pais da Democracia” sinais preocupantes tambem surgem ao não se convocarem as reuniões estatutárias em tempo util. Aliás se o Juiz da Causa determinar que a Renamo deve realizar o Congresso digamos nos próximos seis meses, será uma machadada sem precedentes na democracia moçambicana! Não pode e nem deveria ser um Juiz a ensinar o “Pai Nosso ao Papa!
Parece estar a emergir em ambos lados tendências de cariz autoritário que preocupavam e devem preocupar a quem realmemlnte ama este país! Vemos a luz do dia Homens que vendem cemitérios dos seus ancestrais ao capital internacional desrespeitando a sua cultura e seus costumes, hábitos e tradições milenares! Homens que negam e renegam suas origens, sua língua e o modus vivendi de seus ancestrais. Se ontem nossos avós trocavam ouro por missangas e outras bugigangas, volvidos vários séculos continuamos a trocar o nosso gás por casas e noitadas no Sul da França para prostitutas…!
Hoje, Segunda feira, 18 de Março de 2024, assinalamos e queremos recordar três efemérides: o nascimento de André Matade Matsangaíssa, o massacre de jovens na Avenida Eduardo Mondlane, pela famigerada UIR do auto-intitulado general Bernardino Rafael e a anunciada mas ainda não confirmada morte do combatente e veterano da luta armada de libertação nacional Miguel Murupa.
Lembremo-nos que os jovens violentados em pleno coração da capital do país se preparavam apenas para celebrar a vida e morte do nosso eterno Mano Azagaia.
Como podem ver, as estrelas encontram-se na história, unidas por uma causa e pela coragem e bravura de lutar pelos moçambicanos.
Como dizia, quero também juntar a esta efeméride a notícia, ainda não confirmada por fontes independentes, que hoje me chegou, da morte de um combatente e veterano da luta armada de libertação nacional, Artur Miguel Murupa, natural de Pebane, província da Zambézia. Murrupa deve tratar-se do último sobrevivente da “Geração” injustamente considerada de “Traidores da Pátria” pelo regime Marxista da Frelimo de que faziam parte Urias Simango, Celina Simango, Lázaro Kavandame, Padre Mateus Pinho Gwengere, Joana Simeão entre outros! Por milagre, Murupa conseguiu fugir a sorte dos seus contemporâneos, tendo continuado vivo até Fevereiro/Março de 2024! Urge escrever a história destes compatriotas e restaurar sua imagem junto às famílias e aos moçambicanos.
Alertar aos jovens de hoje que cabe aos vivos honrar os mortos, e aos jovens também cabe inspirar-se nos ideais daqueles que deram suas vidas para que hoje podessemos gozar a democracia que gozamos! Mesmo que imperfeita, com fraudes é melhor que o inferno que nos havia sido imposto nos derradeiros anos da independência nacional! A coragem demonstrada a partir da Cidade de Quelimane e replicada em outras paragens como a capital do país, Maputo, Vilanculos, Angoche, Nacala, Nampula, Chiure entre outras desde o dia 11 de Outubro a 24 de Novembro de 2023 por milhares de jovens que reivindicaram o seu direito soberano de escolher quem lhes deve governar, deve também inspirar-nos na nova página que se abre, quando um famigerado Secretário Geral de um partido capturado por narcotraficantes diz em tom Czariano que “queremos os 250 lugares no parlamento moçambicano”! Que heresia…! Ter-se-a esquecido que para que “ele e o seu narcopartido possam querer, nós o povo, é que temos que querer para que eles possam querer?”
Os 44 dias de marchas ininterruptas na Cidade de Quelimane e em outras paragens revelaram igualmente a grande bravura e a inquebrantável força da juventude e das mulheres em Moçambique, abrindo um novo capítulo na luta política: tendo como pela mão as matas de gorongosa mas as avenidas e ruas das cidades! Era o início da Geração Trufafá!
Enganada pelo STAE, aldrabada pela CNE, ludibriada pela PGR e pelos Tribunais comuns a juventude marchou, cantou e protestou sem violência durante 40 dias e 40 noites até ser em parte traída pelo Conselho Constitucional chefiada por gente esfomeada, sem escrúpulos, carácter ou postura que a história não se dignará a julgar. Traida porque não foi reposta a totalidade da verdade eleitoral! Maputo, Matola, Nampula, Nacala, Moatize, Tete, Cuamba, Vilanculos, Chokwe, Gurue, Mocuba, Milange, Maganja da Costa, e noutras cidades e vilas aguardam pela justiça eleitoral e oxalá saibam transformar essa raiva em vitória nas eleiçôes de 09 de Outubro de 2024!
Não fosse intervenção de uma parte corajosa da Comunidade internacional, não fosse a força das mulheres e da juventude, não fosse a bravura e a competência das equipas técnicas legais não sei se estaríamos onde estamos hoje!
O país vive momentos históricos, momentos de crise que importa ultrapassar com a mesma coragem e bravuras demonstradas por Matsangaíssa, Azagaia, e Murupa, com sabedoria e patriotismo acima de tudo.
Como Nyussi disse recentemente, corremos o risco de perder a nossa pátria! Não a perdemos já, senhor Presidente? Quando a nossa sobrevivência depende de paísesses minusculos como o Ruanda, quo vadis?
As eleições gerais são em Outubro, no mês em que o Comandante Matsangaíssa morre em combate na Gorongosa. Os sinais estão aí e como disse o saudoso mano Azagaia: “não se esqueçam de fazer o que combinámos!”
Viva Moçambique!
Viva a Juventude!!
Manuel de Araújo
Que os jovens venham a ter o mesmo espírito