De uma antiga homilia de Sábado Santo do século IV (extraído da Liturgia das Horas do Sábado Santo), inspiro-me para desejar-lhe uma *”Magna festa da Ressurreição de Jesus Cristo”.*
O texto inicia dizendo que “um grande silêncio reina hoje sobre a terra; um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei dorme; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos. Deus morreu segundo a carne e acordou a região dos mortos”. Este parágrafo parece confuso, mas é exatamente o que aconteceu. Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo Encarnado, assumindo a nossa condição humana, por amor e pela nossa salvação, entregou-se até a morte. Morreu para tirar os que dormiam e aguardavam essa noite solene. Por isso, torna-se a “Noite de todas as noites”.
Jesus vai à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Quer visitar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte. Vai libertar Adão do cativeiro da morte, Ele que é ao mesmo tempo seu Deus e seu Filho. Os filhos da carne devem ser resgatados da corrupção por Aquele que nunca foi corrompido para nos lavar da culpa.
No encontro emocionante entre Jesus e Adão, começa um diálogo “Eu sou o teu Deus que por ti Me fiz teu filho, por ti e por estes que nasceram de ti; agora digo e com todo o meu poder ordeno àqueles que estão na prisão: ‘Saí’; e aos que jazem nas trevas: ‘Vinde para a luz’; e aos que dormem: ‘Despertai’.
É noite de luz porque aquele que é Luz tira os seus que estavam nas trevas para viverem para sempre na luz. Portanto, ninguém deve continuar nas trevas: vamos juntos celebrar esta noite que a luz venceu as trevas, a vida venceu a morte, a graça venceu o pecado.
Porque o mistério é tão profundo e ao mesmo tempo parece impossível de ser alcançado por olhos humanos, Jesus continua apresentando a Adão dizendo: “Vê no meu rosto os escarros que por ti suportei, para te restituir o sopro da vida original. Vê no meu rosto as bofetadas que suportei para restaurar à minha semelhança a tua imagem corrompida”.
Essa revelação de Jesus leva-nos à Cruz onde Ele ficou desfigurado não somente pelos açoites dos soldados, mas fundamentalmente, por causa dos nossos pecados.
Cristo continua a conversar com Adão, relatando o que viveu na Sexta-feira Santa: “Adormeci na cruz, e a lança penetrou no meu lado, por ti, que adormeceste no paraíso e formaste Eva do teu lado. O meu lado curou a dor do teu lado. O meu sono despertou-te do sono da morte. A minha lança susteve a lança que estava dirigida contra ti”.
É do lado direito que saiu sangue e água, fonte da Eucaristia e do Batismo, respetivamente.
Depois de Adão aguardar esta noite de boas notícias, a sua libertação do castigo, por milhares de anos, escuta de Cristo essas palavras: “Levanta-te, vamos daqui. O inimigo expulsou-te da terra do paraíso; Eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas no trono celeste. Foste afastado da árvore, símbolo da vida; mas Eu, que sou a vida, estou agora junto de ti. Ordenei aos querubins que te guardassem como servo; agora ordeno aos querubins que te adorem como a Deus, embora não sejas Deus”.
Hoje é devolvida a dignidade daquele que estava longe de Deus. Hoje, Adão contempla Deus face a face, pois o Salvador tirou-lhe da vergonha a que era sujeito por causa da desobediência.
O servo obediente, Jesus Cristo devolve a alegria, pois Ele ressuscitou.
Para celebrar a solenidade, a noite da libertação, Jesus declara: “Está preparado o trono dos querubins, prontos os mensageiros, construído o tálamo, preparado o banquete, adornadas as moradas e os tabernáculos eternos, abertos os tesouros, preparado para ti desde toda a eternidade o reino dos Céus”.
A conquista do Reino dos Céus é motivo da festa. Então, vamos juntos com cânticos de júbilo anunciar ao mundo que o Senhor ressuscitou, aleluia.
Como gratidão pela grande dádiva do céu, a nossa salvação, a conquista do Reino dos céus, vamos unidos rejubilar solenemente a vitória da vida sobre a morte.
Já não somos mais escravos do pecado e da morte, mas somos livres e obtivemos vida em abundância, pois, Jesus ressuscitou, aleluia.
Ele venceu a morte e está no meio de nós, aleluia!
Reze por este servo inútil,
Pe. Fonseca
Kwiriwi, CP.