Introdução
O documento Lumen Gentium (Luz das Nações) auxilia-nos no entendimento sobre a missão de cada batizado que é ser, a exemplo de Cristo, Luz das Nações.
Entretanto, encontramos algumas pessoas que abandonam a Igreja com justificações individualistas, como por exemplo, uma briga com o pároco, outra briga com a equipe de liturgia ou da catequese. Outras pessoas encontram dificuldades em concordar com as orientações da Mãe Igreja ou o Magistério.
O que seria de nós se não houvesse, além da Sagrada Escritura, a Doutrina, o Direito Canônico e o Catecismo?
Por que não buscamos compreender que a Igreja é santa e pecadora?
Por que procuramos na Igreja, pessoas perfeitas para permanecermos se nas famílias temos piores problemas, mas nem sempre abandonamos?
São perguntas de reflexão porque há particularidades. Por isso nunca devemos generalizar.
Todos somos também chamados a ser Igreja porque pelo Batismo, nos tornamos membros da Igreja cujo Cristo é a Cabeça.
1. Os desabafos dos nossos paroquianos
Nos atendimentos diários, os sacerdotes escutam cada desabafo como o da senhora Mavila que foi conversar com um pároco da paróquia são Mateus que ela não fazia parte para justificar porque abandonou da sua paróquia chamada santa Ana.
A mulher estava feliz achando que teria um padre bonzinho e que sua “apologia ao abandono” teria legitimação, começa argumentando: “a situação na minha antiga paróquia é insuportável. Como é que ainda há pessoas que rezam naquela Igreja com tanta maldade?”
O padre, bem calmo e atento, pede que continuasse a relatar tudo que gostaria para ter alívio. A senhora Mavila continuou: “Senhor padre, há 15 anos que servi minha paróquia, não exigi nenhum pagamento, fui fundadora da equipe de dízimo, fui do Apostolado de Oração e tanta coisa que o senhor não sabe. Mas quando meu marido ficou doente, ninguém quis visitá-lo, inclusive o pároco. Quando meu esposo morreu, eu preferi chamar outro padre para que fosse celebrar as exéquias. Depois do luto, não tive coragem de voltar para aquela Igreja desumana. Ninguém se lembrou mais de mim e eu não pisei meus pés àquela paróquia”.
O sacerdote sabiamente, respondeu: “a senhora nunca foi cristã, mas uma batizada que procurava louvores e retribuições pelos serviços prestados. Quando não ganhou disso, achou por bem ir embora. A senhora tem razão por que a expectativa era maior”.
A mulher respirou profundamente e caiu no choro. Quase que deu bofetadas ao padre. Mas depois do choro, ela entendeu que de fato buscou a Igreja para fins pessoais e não como membro da comunidade.
O que diz o documento Lumen Gentium para não buscarmos a Igreja como um organismo humanitário, mas como casa, família e local de amadurecimento na fé?
Se toda vez que vamos visitar nossas mães, a ideia fosse somente de ir comer, beber e levar marmitas para casa, sem antes dar e receber o carinho e atenção, então nossas famílias entrariam em colapso. A casa da mãe seria um restaurante.
2. Cristo é a imagem de Deus visível e misericordioso
O Lumen Gentium (LG, 2), afirma o seguinte: “O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criação» (Col. 1,15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom. 8,29)”.
Cada um de nós faz parte desse projeto de Deus. Somos a imagem de Cristo.
O que significa ser imagem de Cristo se não for a bondade, a misericórdia e o acolhimento dentro das nossas comunidades cristãs?
Não tornemos nossa Igreja de uma ONG. Saibamos o que nos faz ser Igreja e o que nos torna membros da Igreja.
Vejamos como o documento (LG,2) sustenta: “E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito», se reunirão em Igreja universal junto do Pai”.
Fazemos parte de uma Igreja universal, por isso é católica.
Se o padre que atendeu a mulher acima quisesse agradá-la para somente ganhar mais uma cristã paroquiana sem antes olhar o todo, ele estaria a manchar a Igreja, como Mãe.
Pode acontecer que alguns padres, querendo assumir o papel de bonzinhos, nos atendimentos, estejam criticando demais outros padres e outras paróquias sem escutar igualmente a versão contraria daquilo que ouviram como reclamação.
É fácil pensar que estamos a consolar, mas coloquemo-nos no lugar para sentirmos na pele a seriedade das nossas palavras e atitudes.
A pergunta que deveríamos fazer é, será que o pároco da dona Mavila sabia da situação que ela vivia? Será que não estava distante?
Será que ignorou deliberadamente o atendimento à ovelha perdida?
Não queremos cometer outra dicotomia, mas pretendemos chegar ao bom senso de que cada caso que deparamos exige um tratamento especial e personalizado.
3. Igreja: comunidade espiritual e sociedade humana
Será um equívoco fatal tentarmos conceber a ideia de que a Igreja é simplesmente espiritual ou é somente uma instituição humana.
Como o próprio Cristo, a Cabeça, que é Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem (duas naturezas), a Igreja deve ser compreendida nessa perspectiva conforme o (LG, 8): “Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica; depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele, embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica”.
No parágrafo acima encontramos a questão da unidade, santidade, universalidade, fundamentos dos apóstolos e a necessidade da obediência à hierarquia da Igreja que cada membro deveria ter vez e voz.
O Papa Francisco pede que evitemos o clericalismo para que haja o protagonismo dos leigos, sem, no entanto, excluir a autoridade dos sucessores dos apóstolos.
Nosso documento de reflexão (LG, 30) já esclarece sobre o caráter peculiar dos leigos, indicando sua importância na construção da Igreja: “Declaradas as diversas funções da Hierarquia, o sagrado Concílio volta de bom grado a sua atenção para o estado daqueles fiéis cristãos que se chamam leigos. Com efeito, se é verdade que todas as coisas que se disseram a respeito do Povo de Deus se dirigem igualmente aos leigos, aos religiosos e aos clérigos, algumas, contudo, pertencem de modo particular aos leigos, homens e mulheres, em razão do seu estado e missão; e os seus fundamentos, devido às circunstâncias especiais do nosso tempo, devem ser mais cuidadosamente expostos”.
O documento enfatiza que os bispos e os presbíteros reconheçam o contributo dos leigos:
“Os sagrados pastores conhecem, com efeito, perfeitamente quanto os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja. Pois eles próprios sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum. Pois é necessário que todos, «praticando a verdade na caridade, cresçamos de todas as maneiras para aquele que é a cabeça, Cristo; pelo influxo do qual o corpo inteiro, bem ajustado e coeso por toda a espécie de junturas que o alimentam, com a ação proporcionada a cada membro, realiza o seu crescimento em ordem à própria edificação na caridade (Ef. 4, 15-16)”.
Considerações finais
A edificação na caridade se realizará quando, cada membro, de acordo com sua posição na hierarquia da Igreja, fará o esforço para que de fato a edificação da Igreja aconteça sempre.
A tendência de querer permanecer na Igreja quando nos agradam e o abandonar porque não concordamos com o padre fulano e a coordenadora beltrana, denuncia a falta de maturidade na fé e na vida cristã de ambas as partes.
Deve haver a consciência de pertença e de fraternidade para que todos se sintam em casa. Se houver algo erro, haja correção fraterna. Na Igreja não deve haver três grupos: os donos e as donas-aqueles que mandam, tomam decisões sem medir as consequências; os excluídos e as excluídas – os que aparecem na Igreja com a cara de enteados. Não têm espaço para contribuírem com seus dons ou são solicitados para exercer serviços que ninguém quer fazer como a de faxineiro; por último encontramos os indiferentes – aqueles que chegam atrasados e são os primeiros a saírem da missa. Não têm interesse em provocar alguma briga nem querem manchar suas mãos com o sangue do inocente.
Muitas vezes, não se pode contar com esse último grupo porque nos momentos cruciais estão ausentes, viajando ou aproveitando o clima na praia.
Igreja somos todos porque pelo Batismo formamos único Corpo, cuja Cabeça é Cristo.
Que nossas igrejas sejam abertas para todos, sendo casa, família e local de diferenças, mas não divergências. Que o Espírito Santo ilumine a todos nós.
Servo inútil,
Pe. Fonseca Kwiriwi, CP.