A liberdade é um direito inalienável de cada indivíduo desde o nascimento, e essa liberdade se manifesta nas escolhas que fazemos ao longo da vida. Cada pessoa possui sua própria maneira de julgar, andar, falar, olhar e sonhar. Contudo, esses sonhos podem ser tanto egocêntricos quanto coletivos. No entanto, parece que a palavra “esperar” já não encontra espaço nas mentes de muitos jovens modestos, pois a insatisfação com o status quo gera um desejo de mudança. Mas como mudar? É nesse contexto que surge o medo – o temor de não saber o que virá após optar pela mudança.
O que mais assombra é a questão do emprego. Durante o segundo mandato de Nyusi, a promessa era de “TRABALHO, TRABALHO e mais TRABALHO”. No entanto, o que se viu foi um aumento exponencial do desemprego, muito além do esperado. Com a proximidade da eleição de 9 de outubro, o dilema se impõe: devo confiar novamente naquele que prometeu trabalho e não cumpriu? Ou devo apostar em novas ideologias, na esperança de que ofereçam algo melhor? Essa dúvida não é trivial; trata-se de um dilema profundo.
O medo acompanha-nos desde o nascimento. Os bebês temem a ausência de brinquedos; as crianças, a falta de novelas e filmes animados; os jovens, a escassez de empregos que nunca existiram; os funcionários, cortes salariais ou a perda do pouco que ganham. Até mesmo os veteranos da Luta de Libertação de Moçambique temem que o governo não pague o valor que é fruto do suor deles, sem perceber que esse dinheiro muitas vezes depende de organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, a população vive sobressaltada, com medo de sair às ruas para exigir seus direitos.
A grande questão que se coloca é: o que precisamos mudar? São as pessoas ou o partido? Acredito que a mudança deve começar pelo partido, pois muitos líderes já passaram pelo poder, mas nenhum conseguiu alavancar Moçambique.
É evidente que os ministros e deputados são parte do problema, pois nunca questionam os altos salários que recebem. As remunerações por sessões extraordinárias equivalem ao salário mensal de um doutorando. Não seria justo que eles reduzissem esses valores em benefício dos demais funcionários? É claro que o pouco que temos deveria ser compartilhado com quem mais precisa. Contudo, o medo alimenta a ganância, e enquanto uns compram carros de luxo sem necessidade, faltam ambulâncias nos hospitais; enquanto uns viajam com recursos públicos, os funcionários do Estado passam meses sem receber salários. Como resultado, muitos jovens veem nas drogas uma válvula de escape para o estresse causado pela má governança.
A democracia em Moçambique não será plena enquanto permanecermos olhando em uma única direção. Isso não é democracia – governo do povo –, mas sim uma aristocracia, onde o poder está concentrado em um grupo restrito que age em nome de todos. Décadas se passam, crianças tornam-se jovens, jovens envelhecem e os idosos tombam sem ver melhorias concretas. A corrupção, o desemprego, as mudanças climáticas e a exploração de nossos recursos sem que possamos usufruí-los são realidades constantes. As madeiras de nossas florestas são exportadas enquanto nossas crianças estudam ao ar livre e sem assentos.
Será que ainda não chegou a hora de mudar? É preciso superar o medo. Aqueles que irão às urnas no dia 9 de outubro devem ser conscientes de que estarão decidindo o futuro não apenas para si, mas para seus filhos, netos e para os jovens que, um dia, terminarão sua formação, mas encontrarão um mercado de trabalho desolado.
Domingos Martins Elias Tuvanjipano