No nosso quotidiano, é difícil apontar uma cidade verdadeiramente representativa dos makondes. A nossa esperança era que Mueda impulsionasse toda a comunidade makonde para além das expectativas. Contudo, apesar de ser um distrito anfitrião e de possuir a maior concentração populacional, há um problema evidente que os “grandes” parecem ignorar, aceitando as ilusões oferecidas pelos governantes. Como explicar que uma vila de tamanha importância não tenha um Instituto Técnico-Profissional que forme os jovens, os quais constantemente clamam pela falta de oportunidades de emprego?
O que se vê em Mueda são os túmulos do Massacre de 1960, agora ornados, e a inauguração da Praça da Moeda (Metical). Não estamos a dizer que esses patrimónios não têm relevância, mas queremos mais. Será que, ao olhar para aquela praça ou para os túmulos do massacre, encontrarei um emprego? Essas relíquias decidirão o futuro dos meus filhos?
Não desvalorizo, de forma alguma, os que lutaram e continuam a lutar pelo bem comum. O que lamento é o fato de sempre celebrarmos nas campas e fazermos cerimónias nos museus de Mueda, enquanto a juventude, que procura melhores condições de vida, é esquecida. A falta de investimentos no futuro de Mueda, especialmente por parte do governo, é evidente. Ao compararmos Mueda com outras cidades, ficamos desolados. Ganhamos a independência nacional graças ao sacrifício dos veteranos da luta, mas agora queremos ver algo prático, que honre o sangue derramado. Celebrar apenas túmulos, museus, praças e monumentos não basta.
Mueda precisa de um hospital maior que possa atender os distritos de Mueda, Muidumbe, Nangade e Mocímboa da Praia. Também são necessárias novas escolas, pois o número de alunos é enorme. O acesso à água é precário; no planalto de Mueda, durante a estação seca, as pessoas percorrem grandes distâncias em busca de água. Quem possui cisternas cobra até 50,00 MT por um galão de 20 litros. Quanto aos combustíveis, a situação também é crítica. Mueda possui apenas uma bomba de combustível para atender mais de três distritos, enquanto outra bomba é exclusiva para abastecer os militares. Quando o combustível chega, esgota-se em menos de três horas, e o preço por litro pode ultrapassar os 200,00 MT.
Os bancos também são insuficientes. O BCI, Millennium BIM e Standard Bank ficam superlotados quando os salários dos veteranos da luta de libertação são depositados. Surge, então, a pergunta: por que não aumentar o número de bancos?
Lamentamos entre nós, mas o nosso grito parece não chegar aos dirigentes. No fundo, não é que eles desconheçam a situação; talvez considerem Mueda fora de Moçambique. Talvez Mueda pertença à Tanzânia, e o nosso destino seja sempre sofrer: “WETU TABU HAILA MWIKO” — A nós, o sofrimento nunca terminará.
Por Domingos Martins Elias Tuvanjipano