
Por: Valdimiro Amisse
A RENAMO está viva, dizem alguns. Mas, se olharmos com cuidado, o que enxergamos é um corpo político em estado terminal, quase prestes a ser enterrado pelos próprios aliados. Não é um funeral oficial, claro, mas parece que o partido já está preparando o terreno. Em Alto Molocue, os “doutores”, os PhDs da política moçambicana, brindaram com champanhe e vinhos caros de Portugal, como se estivessem celebrando uma vitória. Mas, o que havia para comemorar? Nada. Apenas a ilusão de poder.
O triste é que eles não perceberam que o verdadeiro funeral não acontece nos salões cheios de taças e discursos vazios. Não, o verdadeiro enterro acontece quando o povo desiste, quando a base se cansa de promessas não cumpridas e abandona o barco. E o povo já deu seu veredito: não apareceu. Não foi às ruas, não foi às urnas, e, principalmente, não se deixou enganar mais uma vez.
Enquanto os líderes brindavam entre si, esqueceram de uma lição fundamental: sem o povo, não há política. E esse povo, que um dia já confiou na RENAMO como um símbolo de resistência e esperança, agora vira as costas para um partido que se afundou em suas próprias contradições. Os sábios da RENAMO se perderam nos jogos de bastidores, nas alianças obscuras e, o pior, na arrogância de achar que podiam vencer sem sequer ouvir as ruas.
A situação maior é que essa situação é autoinfligida. A RENAMO não está sendo derrotada por um inimigo externo, não foi derrubada pela FRELIMO nem pelas fraudes eleitorais que tanto denuncia. Ela está se autodestruindo, por sua negligência. O líder, outrora visto como forte e carismático, agora se esconde dos debates e evita enfrentar o povo. Fugir dos debates foi uma das experiências. O que se esperava? Que os moçambicanos fossem se arrastar até as urnas por um líder que nem sequer tem coragem de encarar um microfone?
Os doutores da RENAMO erraram ao acreditar que a política se faz entre quatro paredes, com acordos fechados e apertos de mãos nos corredores. Eles esqueceram que o povo tem voz, e que essa voz, quando silenciada por tempo demais, se transforma em algo muito mais perigoso: a indiferença. E foi exatamente isso que vimos nas últimas eleições. Um silêncio ensurdecedor, uma ausência maciça. O povo, cansado de ser tratado como massa de manobra, decidiu que já não vale a pena lutar por um partido que não o representa mais.
E o que resta à RENAMO agora? Será que alguém ainda tem coragem de levantar a taça e brindar? Talvez esses mesmos doutores estejam reunidos em algum lugar, desta vez não mais celebrando, mas lamentando o que poderia ter sido. Mas há algo ainda mais triste: a tentativa desesperada de ressuscitar um cadáver político, de tentar trazer de volta o prestígio de um partido que já não existe mais. Não há mais o que salvar. O funeral da RENAMO não será oficial, mas está em andamento.
A RENAMO, que um dia carregou os sonhos de milhões, agora não consegue nem levantar suas bandeiras com dignidade. Os brindes continuam, mas o vinho já não tem mais o mesmo sabor.
A ironia é amarga. O partido que um dia enfrentou de frente o poder estabelecido agora se esconde nas sombras, esperando por um milagre que não virá. O funeral já começou, só falta o povo aparecer para enterrar de vez o que resta. Mas o povo, cansado de tantas falsas promessas, pode muito bem não aparecer nem para o enterro. Afinal, por que prestar homenagens a quem já está morto há muito tempo, mas ainda não percebeu?
Essa é a verdade incômoda que os doutores da RENAMO tentam ignorar enquanto brindam entre si: o partido morreu antes de morrer. E o silêncio ensurdecedor do povo é a prova final de que o funeral está próximo.
Ser pobre não É Defeito
A morte da RENAMO parece não questionável, apresenta sinais inequívocos para tal, e poucos detêm o poder de a renovar.
Digo isto, e mais vem depois.