
Por: Valdimiro Amisse
Há um grito silencioso que ecoa repetidamente pela estrada empoeirada e desgastada que liga a cidade de Nampula ao distrito de Mecuburi, uma distância de 72km apenas. O povo, exausto de promessas vazias e do abandono governamental, enfrenta diariamente o martírio de uma via negligenciada, onde a esperança de um asfalto digno escorre como água entre os dedos.
Mecuburi, outrora promissor, agora enfrenta o abandono das estradas que deveriam ser a conexão vital entre o distrito e a cidade. As promessas feitas por governantes de outrora reverberam como um eco distante, enquanto crateras e lamaçais servem como testemunhos concretos do desinteresse do governo atual. Resignado, o povo de Mecuburi encara a sua sorte com a dignidade de quem já não espera milagres.
Nesta terra abençoada por riquezas minerais e florestais, os verdadeiros heróis são os automobilistas. Esses anônimos combatentes da estrada enfrentam diariamente as adversidades, mantendo viva a chama da economia local. As viaturas, sacrificadas nas lagoas de lama e buracos que pontilham as estradas de Mecuburi, contam histórias de resistência. Cada quilómetro percorrido é uma batalha vencida contra a lama, a poeira e a desesperança que paira sobre a região.
A tragédia atinge seu auge na estação chuvosa, quando o que deveria ser uma viagem de algumas horas transforma-se numa odisseia de cinco horas ou mais. Os automobilistas, verdadeiros guerreiros modernos, veem seus veículos afundando em uma terra que, apesar de suas riquezas, se torna uma armadilha para quem nela vive. Onde estão aqueles que deveriam salvar esse povo?
Infelizmente, o governo permanece indiferente ao clamor dos que dependem dessa estrada para sobreviver e se desenvolver. As promessas de reparo, que ecoam como um mantra político, são apenas palavras vazias, incapazes de preencher as crateras que se alargam a cada nova chuva que castiga Mecuburi.
É hora de dar voz a esses heróis anónimos, que resistem e persistem, mesmo diante das adversidades. É tempo de tornar visível o martírio do povo de Mecuburi, cujas vidas estão intimamente ligadas a estradas que mais parecem trilhas de desespero do que vias de progresso. Suas histórias de luta e sacrifício precisam ecoar pelos corredores do poder, e os olhos do governo devem finalmente se voltar para a realidade desenhada em poeira e lama.
É urgente que o governo assuma sua responsabilidade, não como mera obrigação burocrática, mas como um compromisso real com o bem-estar e o futuro daqueles que enfrentam diariamente as estradas de Mecuburi. Que as promessas vazias finalmente deem lugar a ações concretas, e que as estradas de Mecuburi se tornem, enfim, caminhos de progresso para o povo que tanto merece.
Que a esperança, por muito tempo adormecida, floresça novamente nos corações daqueles que persistem. Que Mecuburi, com a força de seu povo, possa, finalmente, trilhar um caminho de desenvolvimento e justiça.