Por: Valdimiro Amisse
Moçambique, pátria amada de heróis e mártires, que outrora sonhava com liberdade e justiça, agora parece afundar-se num mar de corrupção e manipulação. A cada eleição, o país vai revelando uma face triste, longe dos ideais de Eduardo Mondlane e Samora Machel. A cada novo episódio, percebemos que a democracia, por estas bandas, está à venda. Desta vez, o preço é 3000 meticais.
Nesta quarta-feira (16) Nampula encharcada pela chuva, enquanto os MMVs (Membros de Mesas de Votação) eram convocados ao Pavilhão de Desportos para receber 3000 meticais, a nação assistia, em silêncio, ao mais recente capítulo da desvalorização do nosso sistema eleitoral. Oficialmente, foi dito que o montante era um “gesto de agradecimento” da FRELIMO. Mas, sinceramente, será apenas isso? Agradecimento por um trabalho que já foi pago com os 4000 meticais da STAE, ou há algo mais escondido por trás desta “generosidade”?
A pergunta que não quer calar é: porquê a preocupação súbita da FRELIMO em agradar os MMVs? Será que estes membros venderam algo mais que o seu tempo? Será que a chuva que caiu sobre Nampula serviu apenas para molhar a terra, ou também tentou apagar as marcas de urnas cheias por lealdade comprada? O que se passa nas entranhas do nosso processo eleitoral, onde o voto, a maior arma de um cidadão, é comercializado a preços miseráveis?
A pátria que sonhou Eduardo Mondlane era uma onde o povo governaria com dignidade, onde o voto seria a expressão mais pura da vontade popular. E, no entanto, aqui estamos nós, em 2024, a ver a nossa democracia ser trocada por notas sujas. Os MMVs, que deveriam ser os guardiões da transparência eleitoral, agora parecem ter sido seduzidos por um sistema que se alimenta de favores e subornos.
O que diria Samora, o homem que clamava por justiça e igualdade? Veria ele nesta prática um Moçambique verdadeiramente livre? Duvido. Samora foi o símbolo da esperança, da transformação. A sua luta não foi para que as urnas fossem enchidas em troca de míseros trocados. Ele sonhava com um Moçambique onde o povo fosse livre de manipulações, onde a consciência fosse mais valiosa que qualquer dinheiro.
Mas a realidade que vivemos agora é outra. A cada eleição, a democracia moçambicana perde mais força, mais credibilidade. E, enquanto alguns enchem os bolsos, o povo paga o preço, não apenas com os seus votos, mas com o seu futuro.
Será que vamos continuar a assistir, de braços cruzados, enquanto o país afunda-se na lama da corrupção e do oportunismo político? Será que vamos aceitar que os nossos votos — a nossa voz — sejam trocados por 3000 meticais? Ou será que está na hora de, finalmente, levantarmo-nos contra este sistema que perpetua o sofrimento do povo?
Mondlane e Samora lutaram por um Moçambique livre, mas o que temos hoje está longe de ser a concretização dos seus sonhos. Se continuarmos a permitir que o voto seja vendido ao preço de um favor, então estamos a condenar o futuro desta nação. Estamos a entregar de bandeja o direito de sonhar com um país melhor. Que futuro nos espera se vendemos o que temos de mais precioso?
Ser Pobre Não é Defeito