
Por: Kant de Voronha
Maputo amanheceu (19/10) envolta em silêncio, mas um silêncio que ecoa mais alto que qualquer grito. Elvino Dias, advogado incansável da causa eleitoral, defensor de Venâncio Mondlane e do Partido PODEMOS, tombou sob a fúria de 25 balas, disparadas por mãos desconhecidas. Abateram o advogado da justiça eleitoral em Moçambique. Abateram um dos poucos que ainda acreditava que a democracia, aqui, podia ser feita de palavras e não de balas.
Elvino não era apenas um homem de leis. Ele era uma voz numa arena de sombras, uma figura que ousava desafiar o sistema, na defesa do voto, da escolha, da liberdade política. Ao ser baleado, sua vida foi silenciada, mas sua morte reverbera como um alerta profundo: até onde vai o custo de falar por justiça? Que preço estamos dispostos a pagar por uma democracia real?
Esses tiros – não foram apenas contra Elvino. Eles foram contra um ideal. Contra a luta por um país onde o povo decide e onde a oposição não é silenciada pela violência, mas respondida com argumentos. Elvino representava o que resta de esperança na justiça eleitoral, um sistema já fragilizado por desconfianças e manipulações. Sua morte não pode ser vista como um mero incidente isolado; ela é o reflexo de uma sociedade onde o medo começa a se sobrepor à coragem, onde aqueles que ousam enfrentar as correntes dominantes são silenciados.
Num cenário político marcado pela tensão e incertezas, onde a democracia é dita, mas não sentida, a morte de Elvino Dias expõe uma verdade amarga: a justiça eleitoral em Moçambique está de luto. Mas mais do que isso, a sociedade inteira é colocada diante do espelho. O que resta quando até os defensores da lei são caçados? Quando o ato de proteger os direitos de cada cidadão pode custar a própria vida?
A morte de Elvino é mais do que um assassinato, é uma ferida aberta na democracia. Que mensagem se passa aos que acreditam no poder do voto, na força das urnas? Que valor tem a justiça se a lei não protege quem a defende? Este crime revela a profundidade do fosso entre o que se proclama e o que se pratica em Moçambique.
E o que resta para os que ainda acreditam? Resta o desafio de manter viva a memória de Elvino Dias, de continuar a batalha, sabendo que cada voto defendido, cada palavra pronunciada pela justiça, pode ser uma sentença de morte. Mas também resta a certeza de que calar não é uma opção. Porque, apesar do silêncio, os ecos da justiça verdadeira sempre encontram um caminho para se fazerem ouvir.
A morte de Elvino deve nos fazer refletir: que país queremos construir? Um país onde os defensores da lei caem sem que ninguém responda por isso? Ou um país onde a voz de cada cidadão, de cada advogado, de cada eleitor é ouvida, respeitada e protegida?
Que a sua morte, dolorosa e trágica, não seja em vão. Que ela desperte uma nação. Uma nação que entenda que não se constrói democracia com balas, mas com a força de um povo que, unido, se recusa a ser silenciado.