
Por Valdimiro Amisse
Moçambique, nossa terra gloriosa, onde cada estrofe do hino nacional trás os sonhos de um povo que ainda acredita no amanhã. Mas será que a pátria amada vencerá? Hoje, o que vemos é um Moçambique construído, sim, pedra a pedra — mas não para todos. O governo, os camaradas que assumiram o poder, parecem ter esquecido a essência dessa canção.
O que dizer dos braços que deveriam erguer a nação? Estes milhões de braços estão cansados, exaustos de carregar o peso de promessas quebradas e de uma pátria que parece os ter abandonado. Eles ainda marcham nas ruas, em greves silenciosas, outros caem sob o fogo da polícia, mortos como quem nunca fez parte dessa terra. Assassinos se escondem sob uniformes oficiais, e a resposta é sempre a mesma: o silêncio cúmplice daqueles que deveriam proteger.
No calor de um ano eleitoral, vidas como as de Elvino Dias são ceifadas, vozes silenciadas porque falavam demais. E agora, diante de mais uma onda de repressão, alguns ousam dizer “valha-nos o colono”. A frase é cruel, é como jogar sal numa ferida aberta. Mas será que ela não carrega verdades dolorosas? O povo clama por justiça, por dignidade, e o que recebe em troca? Bala e morte, mãos de ferro onde deveria haver diálogo e esperança.
“Milhões de braços, uma só força”, diz o hino. Mas que força é essa quando o governo que nos governa se apega ao poder, ao invés de se apegar ao povo? Onde está o novo dia? Onde está a vitória prometida? Os camaradas, inchados de poder e corrupção, esqueceram-se de onde vieram. Cada greve, cada assassinato, cada injustiça empurra Moçambique para o abismo, afastando o sonho de liberdade que um dia, Samora Machel ousou nos prometer.
Que se lembrem: o povo é a verdadeira pátria. E essa mesma pátria, dia após dia, ainda pode se levantar, pedra a pedra, para esmagar aqueles que a traíram. O tempo dos camaradas está se esgotando. O novo dia, se não for construído por aqueles que governam, será levantado pelos braços de quem hoje se ergue em revolta.
Ó, pátria amada, vamos vencer, sim — mas talvez não ao lado de quem está no poder agora.
*Ser pobre não é Defeito*