
Por: Valdimiro Amisse
No país da hipocrisia institucionalizada, parece que a nova moda é negar a verdade. O governo diz que não houve disparos contra jornalistas durante as manifestações de segunda-feira, em Maputo. Mas o que todos nós vimos – nas ruas, nos ecrãs, nos vídeos virais – foi bem diferente. Dois jornalistas baleados, vários intoxicados por gás lacrimogéneo, e o governo a empurrar a culpa, como sempre, para o azar.
O porta-voz do Conselho de Ministros, Filimão Suaze, ainda teve a ousadia de justificar o injustificável: “Os jornalistas foram atingidos porque estavam no local errado, no momento errado”. Sr. Suaze, permita-me uma pergunta simples: onde deveria o jornalista estar, senão onde a verdade acontece? Ou será que o governo preferia que os jornalistas ficassem nas redações a receber comunicados governamentais em vez de cobrir os acontecimentos reais? A vossa estratégia está cada vez mais clara: esconder a verdade e abafar a realidade. Mas há uma coisa que nunca conseguirão sufocar: a consciência de um povo que está a despertar.
A afirmação de que os jornalistas estavam “no lugar errado” revela algo muito mais profundo do que uma simples negação: a normalização da violência estatal contra o seu próprio povo. Ao afirmar que os jornalistas foram atingidos por estarem ao lado dos manifestantes, o governo está a admitir que considera legítimo atirar contra quem tem a coragem de levantar a voz. E, claro, quando jornalistas tentam expor essa brutalidade, eles são convenientemente alvos colaterais. Que conveniente, não?
Mas a verdade é que nós vimos. Todos vimos. E enquanto vocês, nas vossas salas climatizadas, preparam desculpas esfarrapadas, o povo está nas ruas, a sofrer na pele a opressão. Cada bala que atiram, cada disparo de gás lacrimogéneo, é uma evidência da falência moral de um governo que prefere calar a voz do povo a ouvi-la.
O que mais me dói não são os tiros que atingiram os jornalistas – é a tentativa desesperada de manipular a verdade. Não, Sr. Suaze, não são os jornalistas que estão no lugar errado. É o governo que, há muito, perdeu o seu rumo.
Ser porque não é defeito.