Por Pe. Kwiriwi
A vida de cada moçambicano vale ouro e nossa luta é pelo bem de todos irmãos e irmãs da pátria amada, Moçambique.
Estamos distantes fisicamente, mas acompanhamos cada minuto o pulsar do sangue de cada moçambicano.
A sua vida e do seu irmão é mais importante que qualquer ganância!
A capacidade de alcançar um “ser moral” é própria da pessoa humana, pois é dotada de razão e ou consciência. No entanto, quando o ser humano tende, de forma gananciosa, alcançar seus projetos subjetivos, esquiva-se de tudo: a moral, a fraternidade, a solidariedade e a crítica.
Na madrugada do dia 19 de outubro de 2024, dez dias após a realização das eleições gerais, em Moçambique, fomos surpreendidos com a notícia do assassinato de dois cidadãos: Elvino Dias e Paulo Guambe, que segundo relatos, eram empenhados na luta pela democracia.
Dez dias de muita agitação provocada pela falta de transparência das eleições denunciadas por vários lideres políticos, ativistas sociais e observadores nacionais e internacionais que afirmam ter havido atropelo do processo eleitoral, como por exemplo, enchimento de urnas e falsificação de editais.
A sociedade civil e os partidos da oposição estão em sintonia apelando que haja justiça eleitoral, em Moçambique.
Enquanto se espera ansiosamente que as denúncias sejam avaliadas e reconsideradas, os apuramentos iniciais dão vitória esmagadora à FRELIMO e seu candidato. Entretanto, Venâncio Mondlane, um dos candidatos presidenciais suportado pelo partido PODEMOS, afirma que ganhou, alegando ter provas por meio da contagem paralela dos resultados.
A pergunta que surge é: quem ganhou ou quem vai ganhar ou quem de fato foi a preferência do povo?
Qual é o critério que será usado para se declarar o vencedor?
Em democracias saudáveis, quem determina o vendedor das eleições é o povo por meio de voto de um candidato e de um partido que acha ser ideal num certo momento da história do país.
Todavia, o caso Moçambique merece um estudo acurado para que não haja precipitação na declaração do vencedor nem do perdedor porque há muitos fatores que podem determinar o vencedor e o perdedor:
- Um grupo que pode pensar que deve se perpetuar a todo custo no poder.
- Um grupo que deve ter vendido sua consciência e esteja ao serviço de um regime.
- Um grupo que ainda deve se encontrar na escravidão e não respeita a maioria porque tem regalias.
- Um grupo que alega estar ao serviço das mudanças e já é hora de Moçambique viver a democracia.
Unidos, os três primeiros grupos acima podem ignorar suas capacidades de se tornarem seres morais para que seus objetivos sejam exequíveis: vencer as eleições e continuar a dominar os pobres moçambicanos.
O único grupo, desesperado, vai às ruas para denunciar os resultados parciais. Será que serão ouvidos e respeitados?
Para que a nossa reflexão tenha sentido, façamos a seguinte pergunta:
Se o regime acha que ainda tem domínio e aceitação do povo, por que não aceita que o processo eleitoral seja transparente, livre e justo?
Por que há sempre sinais de pouca transparência, desde o recenseamento, votação, contagem e divulgação dos resultados?
Por que em alguns pontos do país, não há envolvimento de todos para que o processo seja justo?
Podemos acrescentar muitas outras perguntas, mas a que pode continuar a incomodar o povo moçambicano é: por que o regime continua a usar o Estado para se perpetuar no poder, mesmo com fortes indícios de que o mesmo povo não o confia?
Por que o sistema aceita que o país continue a realizar eleições se não se preenche os critérios do processo eleitoral?
Não havendo responsabilidade pessoal e comunitária, para que a vida tenha dignidade, para que haja respeito pela decisão do povo e tolerância política, o país deve parar e pensar no seu futuro.
Após trinta anos de uma falsa democracia por causa do único mal que é a fraude eleitoral, acrescido ao problema da corrupção generalizada, com o sangue derramado todos os dias de inocentes, chegou a hora para se pensar se Moçambique continua com o desafio das eleições ou não.
Com a luta desigual entre o regime e os partidos da oposição, o primeiro que usa os bens do Estado e o segundo que recebe migalhas para tentar a sorte, a continuação dessa chamada “democracia”, restrita ao processo eleitoral, é um insulto ao povo moçambicano e desperdício dos dólares da comunidade internacional.
O povo denunciou que não confia mais nos órgãos eleitorais porque, no dia 09 de outubro, mais da metade dos eleitores não compareceu nas mesas de voto.
Quando um cidadão nega a si o seu próprio direito é um sinal vermelho e ao mesmo tempo uma denúncia, pois não se aceita que o povo gaste seu tempo sabendo que o regime já definiu o vencedor e o perdedor.
Enfim, é urgente que se busque o melhor sistema e modelo de governação participativa para que o país não continue passando vergonha no cenário internacional.
O que estamos a acompanhar nas ruas, irmãos matando outros irmãos, a vida sendo tirada como se isso não fosse um bem maior, indica que algo está a faltar no país: fraternidade e vivência dos valores e princípios que regem um povo.
O povo deve continuar unido para denunciar a perseguição dos cidadãos que lutam pela democracia e pela paz.
Quer os instrumentalizados pelo sistema quer os inocentes, deve haver um consenso: assumir a responsabilidade moral para a construção de uma nação pacífica e de justiça social.
Deve haver tolerância política e transparência nas eleições.
Se os elementos que definem uma democracia foram e são ignorados, então deve se buscar o melhor caminho para que o povo viva em paz e trabalhe no desenvolvimento sócio e económico de Moçambique.
Denunciemos qualquer ato que atenta a vida humana.
Lutemos pelo bem do povo moçambicano o qual fazemos parte com orgulho.
Denunciemos a ganância e a cultura de morte porque todos temos o direito e legitimidade de vivermos em paz nessa pátria amada.
Despertador dos Sonhos!