
Por Valdemiro Amisse
Vocês nos arrancam a vida e esperam que sigamos como se nada tivesse acontecido. Vocês matam nossos filhos, nossos irmãos, nossos sonhos, e nos deixam apenas com o silêncio. Não há luto suficiente para as vidas que vocês destroem com a mesma facilidade com que respiram. Não há espaço para lágrimas quando o sangue corre tão depressa. Vocês matam, e nós, sem escolha, nos enterramos.
Enterramos Elvino como enterramos tantos outros, sem entender por quê. Ele não foi o primeiro, e, lamentavelmente, sabemos que não sera o último. Vocês se escondem atrás das palavras bonitas, de discursos vazios que nunca chegam até a nós. Enquanto, isso, os caixões continuam a se alinhar, as mães continuam a perder seus filhos, os pais continuam a ver o futuro desaparecer diante de seus olhos. E o que vocês fazem? Assitem. Ignoram. E matam mais um.
Vocês falam de progresso, mas o que significa progresso quando é regado com sangue? O que significa desenvolvimento quando nossas ruas estão cheias de corpos que não deveriam estar no chão, quando as famílias estão despedaçadas, antes de terem chance de florescer? Vocês matam o presente e esperam que acreditemos que estão construindo um futuro. Mas como se constrói algo se derruba tudo a sua volta?
Voces forçam nossas mães a enterrarem seus filhos, e depois forçam o país a sorrir, a fingir que tudo esta bem. Mas o luto não desaparece porque vocês desejam. O luto se transforma em revolta, em uma ferida aberta que não cicatriza. E voces contínuam, implacáveis, matando os que se atrevem a viver. Voces matam o corpo, mas o espírito da revolta cresce. A terra que vocês sujam com sangue não vai perdoa-los tão facilmente.
Há muito tempo, disseram que eramos livres. Mas que liberdade falam, se temos que interrar nossos filhos antes se sequer ter uma chance de viver? É essa liberdade que vocês tanto falam é uma mentira.
O único que é livre aqui é o medo, o terror que vocês espalham como uma sombra permanente sobre nós. Vocês matam, e nós, de novo de novo enterramos.
E quando enterramos, olhamos para vocês, intocáveis, imunis á dor que causam. Vocês se escondem atrás das suas muralhas, mas saibam que não existe muralha alta o suficiente para esconder o cheiro da morte que vocês espalham. Esse cheiro esta em toda parte: nas nossas ruas nas nossas casas. Vocês podem fugir dele por um tempo, mas ele vai alcançar-los. Porque não se pode matar impunemente para sempre. Um dia a própria terra se levanta para cobrar o sangue que foi derramado.
Vocês podem continuar, podem tentar silenciar as vozes, enterrar as verdades, destruir os sonhos. Mas saibam que cada vida que vocês tiram é um passo a mais para sua queda. Vocês matam, mas a história não esquece. O sangue dos nossos irmãos não serão apagado com os seus discursos. Ele estra lá para sempre, lembrando-nos do que vocês são: assassinos.
Ser pobre não é defeito
Amei o texto e notei muita maturidade. Força