
Por Kant de Voronha
Nos idos tempos, antes que a noite das armas pesadas e dos sussurros de revolução se instalasse, Moçambique era uma terra marcada pela opressão colonial. Naqueles dias, três movimentos libertadores – MANU, UDENAMO e UNAMI – com uma só voz se fundiram para formar a FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique. Era um grito coletivo que ecoava pelos vales e montanhas, alimentado pelo desejo feroz de independência. Esses homens e mulheres, libertadores de almas e destinos, carregavam consigo um sonho comum: libertar o povo da opressão colonial, arrancando o futuro das garras do invasor e devolvendo-o às mãos daqueles a quem, por direito, pertencia.
A luta foi longa, dolorosa. Sangue, suor e lágrimas lavaram a terra vermelha deste país. A resistência contra o jugo colonial tomou formas épicas, gravadas nas memórias de velhos soldados e nas canções que ainda ecoam entre as palmeiras. A independência, proclamada em 1975, foi a concretização de um sonho que havia sido regado pelo sacrifício de tantos. A FRELIMO, que antes significava união, bravura e libertação, tornou-se o símbolo de esperança, o clarim de uma nova era para Moçambique.
Contudo, como em tantas tragédias históricas, o brilho dessa libertação logo começou a se desvanecer. O que havia sido uma aliança de libertadores, unidos pela causa maior, foi sendo tomado de assalto por aqueles que não viam na liberdade do povo um objetivo final, mas sim uma porta aberta para a sua própria ascensão. O idealismo dos primeiros combatentes, feito de coragem e sacrifício, foi lentamente substituído por um projeto de poder. Assim, a Frelimo, agora minúscula e desprovida do espírito original, começou a sugar o país. Transformou-se no vampiro do qual Moçambique, tantos anos após sua independência, ainda tenta escapar.
Os vampiros, ocultos sob o manto da glória dos heróis caídos, assumiram o controle. De libertadores, tornaram-se predadores. E Moçambique, que sonhara com liberdade e prosperidade, viu-se mergulhado em uma nova forma de opressão, desta vez interna. Não eram mais os colonos a sugar a seiva vital do país, mas aqueles que haviam prometido defendê-lo. A riqueza natural que deveria ser partilhada com o povo passou a circular em mãos fechadas, servindo apenas aos interesses de uma elite política e económica que se enraizava no poder.
A Frelimo no poder distorceu o sonho de independência, manipulando mentes pobres e famintas com promessas de uma prosperidade sempre adiada. O que antes eram campos de batalha pela liberdade, agora se transformaram em arenas de corrupção, onde o sangue dos inocentes continuava a ser derramado. Não mais pelo colonizador estrangeiro, mas pelos filhos da terra, que se haviam apoderado dos tronos do país para enriquecer às custas da pobreza e do desespero dos outros.
Como vampiros que sugam a vida de suas vítimas, os poderosos agora extraíam a riqueza do país para sustentar seus impérios pessoais. As minas, o petróleo, a madeira preciosa, todas essas riquezas que deveriam servir ao bem comum, tornaram-se moedas de troca para os que se apoderaram do destino da nação. O povo, outrora empoderado pelos gritos de liberdade, foi lançado à penumbra de uma nova forma de escravidão: a pobreza crónica, a falta de oportunidades, a manipulação das mentes através da propaganda e da repressão.
Os vampiros da Frelimo minúscula consolidaram sua presença, tecendo uma teia de poder que mantém o país em suas garras. Promessas de desenvolvimento são feitas, mas nunca cumpridas. O povo, exaurido pela luta diária pela sobrevivência, vê-se preso num ciclo de promessas vazias e desilusões constantes. Os sonhos de independência, que outrora brilharam com tanta força, foram substituídos por uma realidade dura e sufocante.
E assim, Moçambique, um país tão rico em recursos naturais, continua empobrecido. A promessa de uma pátria livre e próspera transformou-se numa armadilha. As mentes pobres são manipuladas, como marionetes que dançam ao som dos discursos de líderes que prometeram libertação, mas entregaram uma nova forma de cativeiro. A corrupção, travestida de burocracia, consome o que resta da alma do país. As verdadeiras histórias dos libertadores, os verdadeiros heróis que sonharam com um Moçambique para todos, são lentamente apagadas dos livros, enquanto os vampiros continuam a sugar o que resta de vitalidade.
E assim o país segue, dividido entre o passado glorioso da FRELIMO libertadora e o presente sombrio da Frelimo predadora. Entre os libertadores e os vampiros, o futuro de Moçambique pende num equilíbrio delicado, onde apenas a conscientização, a luta contínua e a recusa em sucumbir à manipulação podem, um dia, devolver a nação ao caminho dos sonhos que um dia foram sonhados. E mais não disse!