
Por: Valdimiro Amisse
Às vezes, no meio da pressa dos dias, uma pergunta paira no ar: “Será que vale a pena?”. Entre o ir e vir das obrigações, entre os compromissos que sufocam, a vida passa. A rotina consome, e vamos nos movendo como quem dança numa coreografia automática, repetida. E então, de repente, a pergunta se faz mais forte. Será que vale a pena essa correria toda? Será que vale a pena esperar pelo momento certo, pela ocasião perfeita, para dizer o que se sente, para estar com quem importa?
Vivemos como se tivéssemos todo o tempo do mundo, mas a verdade é que ele escorre por entre os dedos sem que percebamos. A morte, sempre silenciosa, está lá, à espreita, como uma visita que pode chegar sem aviso. E é isso que nos confronta: as incertezas de nossa partida. Será que vale a pena deixar para amanhã aquele convite para um café, aquele telefonema que nunca se faz, aquela palavra de carinho que fica engasgada?
Nos apegamos a agendas, compromissos e metas, como se essas fossem as coisas mais importantes. Mas o que deixamos de lado, no silêncio das horas que passam, são os gestos simples que realmente dão sentido à vida. Será que vale a pena esperar? Não! Vale a pena agora, nesse instante, chamar alguém para tomar um café, ouvir a voz de um amigo ou familiar do outro lado da linha, mesmo que seja só para dizer: “Estou com saudades. Você está bem?”. Essas palavras, mesmo que sejam as últimas, carregam uma verdade profunda.
A vida é cheia de incertezas, e a maior delas é o dia da nossa despedida. Não sabemos quando o último abraço será dado, quando a última conversa acontecerá. Então, por que adiamos tanto o essencial? Vale a pena deixar que o tempo passe sem nos permitir viver esses momentos? Vale a pena não nos chamarmos para o café que pode ser o último, sem saber que, talvez, aquela xícara de café quente seja a despedida que não esperávamos?
Afinal, de que vale a vida se não compartilhamos os instantes que importam? Se eu morrer amanhã, ao menos terei certeza de que vivi com a alma aberta, que não esperei por ocasiões especiais para dizer o que sentia. Que não deixei de lado o simples prazer de estar com alguém, de partilhar um pouco da vida, nem que fosse em silêncio, entre um gole de café e outro.
Por isso, não espere. Me chame para o café agora, ligue para dizer que está pensando em mim, que sente minha falta. Vamos falar hoje, mesmo que sejam as últimas palavras da mala que a vida carrega. Porque, no final, não são as grandes conquistas que fazem a vida valer a pena, mas esses momentos. E, se eu morrer… se eu morrer, que eu tenha vivido cada instante com a certeza de que valeu a pena estar aqui.
Ser Pobre Não é Defeito