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Por Valdimiro Amisse
Em Moçambique, a liberdade tornou-se um privilégio caro, acessível apenas a quem ocupa as poltronas do poder. Para o cidadão comum, restam as grades, a repressão e a mordaça imposta por um governo que transforma o país em território vigiado.
A cada manifestação, a resposta é a mesma: silêncio imposto à força, cassetetes levantados, gritos abafados, e uma multidão que passa a ocupar as celas, enquanto o governo se preocupa em garantir que nenhuma voz escape do controle. É assim que vemos milhares de moçambicanos, em 154 distritos, que se unem não para pedir privilégios, mas para exigir o direito mínimo de serem ouvidos, enfrentarem a brutalidade policial. Para cada voz que se levanta, a cela se enche; para cada pergunta, a resposta é o som do cadeado trancando a porta da prisão.
O Ministério da Justiça fala em segurança e ordem, mas a cada recluso que consome 700 meticais diários dos cofres públicos, é um cidadão a menos sendo atendido no hospital, uma criança a mais fora da escola, um futuro desperdiçado. E o governo paga essa conta com dinheiro público, o mesmo dinheiro que poderia construir hospitais e escolas, o mesmo dinheiro que poderia ser investido em estradas e saneamento, no desenvolvimento de um país com tantos recursos e tanto potencial. Mas a escolha parece clara: é mais barato para o governo manter o povo nas celas, mesmo que para isso a conta saia bem cara.
A polícia, que deveria proteger a população, torna-se o braço que a sufoca. Prender, calar, reprimir, essa é a ordem. Porque ouvir o povo é arriscado para quem ocupa o topo. A verdade é que a segurança serve àqueles que temem perder o poder, e a liberdade é privilégio dos poucos que se sentem intocáveis. Na mesma velocidade em que as celas se enchem, o país se esvazia de esperanças, de jovens, de sonhos.
Então, fica a pergunta: quem é o verdadeiro prisioneiro aqui? Será o povo, atrás das grades, ou o governo, refém de seu próprio medo de ouvir a população?