
Não! As redes sociais digitais são o 5° PODER
Ao observarmos as redes sociais digitais como espaços de mobilização, comunicação e construção de narrativas, é fundamental reconhecer seu papel dinâmico e funcional na ampliação de vozes, muitas vezes em contraposição ao entendimento de uma “minoria ruidosa” ou de uma “ilusão de maioria”. Em vez de apenas distorcer percepções, as redes sociais têm um poder particular para facilitar a organização e o engajamento coletivo, gerando uma plataforma onde as demandas e aspirações podem ser expressas, difundidas e, eventualmente, legitimadas pela sociedade. Alguns aspectos importantes de como as redes funcionam para arrastar e envolver as massas incluem:
1. Efeito de Ampliação e o Poder de Alcance Global: Redes sociais permitem que qualquer mensagem seja ampliada e compartilhada por milhões de usuários em minutos, o que vai além da “minoria ruidosa”. O conteúdo viralizado, principalmente em contextos de instabilidade ou de indignação social, encontra eco em indivíduos que compartilham sentimentos semelhantes, fortalecendo movimentos que parecem limitados a um grupo específico, mas que, na realidade, encontram respaldo em uma ampla base de apoio latente. Não é raro que esses movimentos digitais evoluam para grandes mobilizações offline, evidenciando que seu alcance pode, de fato, representar interesses populares mais amplos.
2. Dinâmica de Engajamento e Algoritmos: A própria estrutura algorítmica das redes sociais é projetada para potencializar o engajamento. Plataformas como Twitter, Facebook e Instagram priorizam conteúdos que geram interações, o que significa que postagens com alto nível de engajamento — típicas de movimentos sociais e reivindicatórios, como o VENANCISMO ou VM7 — tendem a ganhar mais visibilidade, independentemente de uma minoria ou maioria. Isso não só permite que as causas defendidas ganhem uma dimensão mais ampla, mas também ajuda a atrair novos apoiantes, que se sentem mobilizados ao perceberem a magnitude do engajamento online.
3. Participação Ativa e Construção de Identidade Coletiva: Diferente de uma “ilusão de maioria”, as redes sociais oferecem um espaço para a construção de identidades coletivas e de pertença. Pessoas que se identificam com causas específicas encontram nas redes um ambiente para conectar-se e para articular suas demandas com coerência e persistência, o que amplia a percepção de que existe uma base sólida e consolidada. Essa identidade coletiva gera um senso de continuidade e legitimidade que vai além da mera visibilidade, tornando a causa difícil de ser ignorada ou marginalizada, mesmo por quem não a apoia.
4. Transparência e Vigilância Pública: Outro ponto que fortalece a eficácia das redes sociais para mobilizações está na capacidade de expor informações em tempo real. Em vez de uma narrativa manipulada por uma minoria, as redes viabilizam uma espécie de “esfera pública digital” onde todos podem, de alguma forma, acompanhar os eventos, questioná-los e intervir ativamente. Esse ambiente diminui a possibilidade de uma “espiral do silêncio”, pois as plataformas incentivam o contraditório e a pluralidade, mesmo que em diferentes níveis.
5. Pressão Social e Legitimação pela Ação Coletiva: As redes sociais também exercem um papel de pressão sobre a opinião pública e os agentes políticos. Movimentos que começam nas redes frequentemente evoluem para manifestações presenciais e podem ser capazes de catalisar mudanças políticas, e já estamos verificando isso na realidade pós eleitoral aqui em Moçambique, refletindo um processo de legitimidade pública. Assim, quando um grupo parece grande nas redes, muitas vezes ele o é também fora delas, ainda que desconsiderado inicialmente pelo status quo.
Portanto, é insuficiente reduzir os movimentos nas redes sociais à ilusão de uma “minoria ruidosa”. A realidade digital nos mostra que essas plataformas não só têm o poder de mobilizar massas, mas também de traduzir o apoio online em engajamento offline, transformando percepções e narrativas sociais ao longo do tempo. Em última análise, as redes sociais podem ser interpretadas como uma ferramenta de transformação coletiva, que democratiza a informação e amplifica as vozes dos indivíduos que, de outra forma, permaneceriam em silêncio.
Por Kant de Voronha