Por: Valdimiro Amisse
Senhor Presidente, escrevo com o peso de mil vozes. A voz que se levanta não é minha; é do povo que o senhor jurou representar. É daqueles que, todos os dias, buscam sustento numa pá de terra seca, sem qualquer esperança de colher mais que a poeira. É daqueles que têm na mesa o prato vazio e na mente a descrença.
Senhor Presidente, nós, moçambicanos, não estamos à espera de uma “campanha de cana-doce.” Sinceramente, o que o senhor pensa que isso mudará? A juventude precisa de educação, saúde, oportunidades, não de palmas vazias para mais uma foto sua segurando um canavial. Enquanto a sua visão permanece limitada ao que pode ser capturado pelas câmeras, a nossa realidade grita. Estamos num colapso, um precipício escancarado em que o povo já começa a cair.
E a economia? O senhor brinca com os salários dos funcionários, e, quando o 13º chega, ou melhor, quando não chega, a revolta explode. É isso o respeito que tem pelo suor do trabalhador? Por acaso, o senhor entende o que significa um mês sem receber? Talvez não saiba, porque a sua mesa continua posta, a sua vida continua confortável. E nós, estamos aqui, sem o mínimo de dignidade que deveríamos ter.
O senhor deveria lembrar-se de quem são seus patrões: somos nós! Somos nós que devíamos ser sua prioridade, sua missão, sua razão de estar no poder. Mas ao contrário, o senhor manda-nos “beber água” com um desprezo que dói mais do que qualquer agressão física. É a arrogância e o descaso, como se não fossemos nada.
Senhor Presidente, temos que falar sobre seus antecedentes. O histórico que o senhor acumulou não é de liderança, mas de opressão, manipulação e jogos políticos. Nenhum atenuante justifica o que tem feito e, pior ainda, o que tem deixado de fazer. As eleições foram um golpe à democracia, e o povo sabe, sente, lembra! E hoje, sob esse regime, o senhor parece mais um padrasto, que nos vê de longe, sem afeto, sem compromisso, sem responsabilidade real.
Renda-se à verdade, senhor Presidente. O país está a desmoronar, e a cada novo “projeto” sem propósito real, a cada palavra sua, a confiança do povo desmorona também.
SER POBRE NÃO É DEFEITO