Por Kant de Voronha
Venâncio Mondlane, aquele que muitos já veem como a esperança de uma nova era, estará ele à venda por 30 moedas de metical? No mercado obscuro da política moçambicana, o cálculo estratégico reina absoluto, como bem descreveu Mancur Olson em “A Lógica da Ação Coletiva”: cada ator político busca maximizar seus ganhos e minimizar suas perdas, enquanto os inocentes pagam o preço do jogo implacável.
O problema não são apenas as moedas, mas o sistema que as distribui. Quem controla o poder controla também os incentivos seletivos, prometendo vantagens aos que se submetem e punindo os que resistem. Contudo, essas promessas não resolvem o problema. Grupos fragmentados, divididos entre interesses pessoais e ideais coletivos, tornam-se ingovernáveis. Assim, Mondlane pode ser apenas mais um peão movido no tabuleiro pela Frelimo, como foram, em momentos cruciais, Afonso Dhlakama e Ossufo Momade.
Será que Venâncio, com seu discurso de mudança, se dobrará à lógica da moeda, à sedução dos favores? Será que ele venderá sua alma, trocando os sonhos de um povo pela segurança de um assento no banquete dos poderosos?
Os mortos inocentes, esses não têm voz. São corpos deixados para trás, em valas comuns de promessas vazias e discursos grandiloquentes. Eles são lembrados apenas como ferramentas retóricas, para justificar ou criticar, mas nunca para transformar. Para eles, não há lógica nem ação coletiva que os redima.
E a política, essa entidade voraz que devora princípios e cospe mentiras, é mesmo real? Ou não passa de uma peça mal ensaiada, onde os atores trocam de máscaras, mas o enredo permanece o mesmo? O público, incauto, aplaude ou vaia, acreditando ter algum papel no destino que já foi decidido nos bastidores.
Trinta moedas de metical. É esse o preço de um líder? Ou é o preço de um sonho traído? Cada moeda, uma traição; cada moeda, um futuro perdido. Se Mondlane se deixar comprar, será mais um capítulo na longa tragédia moçambicana, onde a alternância é apenas uma troca de figurinos, e a esperança, um produto descartável.
Mas há perguntas que não podem ser compradas nem silenciadas:
- Quem chora pelos mortos?
- Quem vai se levantar quando o teatro ruir?
- Quem dirá “basta” a essa encenação de poder e mentiras?
Venâncio Mondlane, as moedas estão na mesa. O que dirá seu silêncio? O que dirá sua decisão? E, principalmente, o que dirá a história, quando o espetáculo terminar e as luzes se apagarem?