Por Kant de Voronha
As tempestades da vida parecem eternas enquanto rugem. As nuvens escuras se acumulam, o vento açoita a alma, e o riso se torna uma memória distante, como um eco de um tempo em que o coração era leve. Mas, ainda assim, dentro de mim, algo sussurra: “Um dia, voltarei a sorrir com gargalhadas.”
Hoje, talvez, o mundo pese nos ombros. As cicatrizes da vida parecem frescas demais, e as lutas diárias arrancam pedaços de energia. Mas sei que o riso que agora parece impossível não está perdido, apenas adormecido. Como um rio que desaparece na seca, mas encontra seu curso novamente quando a chuva cai, o riso voltará.
A vida é feita de ciclos, e cada inverno que congela os sonhos traz consigo a promessa de uma primavera que os fará florescer. O riso é uma semente. Ele espera pacientemente no fundo do coração, germinando em silêncio, até que o calor de novos dias o traga à superfície. E quando florescer, será como um campo iluminado pelo sol, cheio de cores e vida.
Lembro-me das vezes em que gargalhei até perder o fôlego, quando o riso explodia como fogos de artifício no peito, sem pedir permissão, sem motivo aparente. Esses momentos não foram fruto de circunstâncias perfeitas, mas de uma alma que, apesar de tudo, encontrou motivos para se alegrar. Um dia, essa mesma alma renascerá.
Talvez o sorriso comece tímido, quase hesitante. Um canto de lábios que se ergue, ainda desconfiado da felicidade. Mas ele crescerá, porque o riso tem fome de espaço, e o coração, mesmo ferido, é terreno fértil para a alegria. E quando as gargalhadas finalmente vierem, virão com força, como uma enchente de esperança lavando as dores acumuladas.
Mas até lá, eu caminho. Dou um passo por dia, um momento de cada vez. Porque, mesmo que o riso ainda não tenha chegado, ele está a caminho. Cada dificuldade que enfrento, cada lágrima que enxugo, cada momento que respiro é uma ponte que me leva para mais perto daquele dia em que o riso me encontrará novamente.
Sei que a dor não desaparece de uma vez. É um processo, como o trabalho do oleiro que molda o barro com paciência. Mas, no meio desse processo, percebo que sou mais forte do que imaginava. A tristeza pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer (Salmo 30:5). Essa promessa é o farol que guia meu barco em meio às ondas.
Enquanto espero, encontro motivos para sorrir nos pequenos detalhes. O aroma do café pela manhã, o abraço de quem me ama, o canto dos pássaros que ignoram os dias nublados. Esses momentos são lembretes de que, apesar de tudo, a vida insiste em florescer ao meu redor.
E assim, eu espero e me preparo. Porque, quando aquele dia chegar, não será um sorriso qualquer. Não será um riso contido, educado, ou controlado. Será uma gargalhada escancarada, daquelas que doem a barriga e fazem os olhos lacrimejarem. Será a libertação de tudo o que me prendeu, a celebração de quem eu sou e de quem me tornei.
Um dia, voltarei a sorrir com gargalhadas. E, quando esse dia chegar, será como se o sol nascesse dentro de mim, iluminando até os cantos mais escuros da minha alma. Até lá, sigo em frente, certo de que o melhor ainda está por vir.