Por Kant de Voronha
Lembro-me de nós dois no início, quando o mundo parecia menor diante da imensidão do nosso amor. Cada olhar trocado era um universo, cada toque carregava a magia de promessas silenciosas. Era como se o próprio tempo nos favorecesse, estendendo os dias para que vivêssemos cada momento intensamente. O brilho que tínhamos não era apenas felicidade, era vida, um sol que aquecia nossas almas.
Mas, como acontece com o passar das estações, o quotidiano chegou sorrateiro. O amor, antes tão radiante, foi encoberto por pequenas nuvens: palavras não ditas, mágoas acumuladas, o peso das responsabilidades. Parecia que, sem perceber, tínhamos deixado nossa luz apagar, substituída por uma rotina cinzenta que ofuscava o que éramos.
Entretanto, algo dentro de mim resiste a aceitar que essa seja a nossa história final. Não, não fomos feitos para o silêncio, para sermos estranhos que dividem o mesmo espaço. Fomos feitos para brilhar, para carregar a força de um amor que desafia as tempestades.
Se olho para trás, vejo que o brilho do nosso amor não desapareceu; ele apenas se escondeu sob as cinzas da pressa e do desgaste. Como uma chama que parece morta, mas que ainda guarda calor no coração das brasas, o nosso amor está lá, esperando ser reacendido.
E reacendê-lo exige coragem. É preciso voltar aos pequenos gestos, aqueles que um dia construíram nossa história. Quem disse que o brilho de um amor depende de grandes feitos? Ele vive nos detalhes: no “bom dia” sussurrado com ternura, no sorriso roubado entre um afazer e outro, no tempo reservado para simplesmente ouvir. É ali, no simples, que as estrelas voltam a iluminar o céu.
Amar não é fácil; nunca foi. O amor é uma escolha diária, uma construção que exige paciência, perdão e entrega. O apóstolo Paulo nos lembrou que o amor é paciente e bondoso, não se vangloria nem guarda rancor (1 Coríntios 13:4-7). E é nisso que acredito: um amor que, mesmo nas noites mais escuras, pode ser renovado, reconstruído e restaurado.
Nosso amor voltará a brilhar, não porque seja perfeito, mas porque escolhemos lutar por ele. Porque escolhemos deixar de lado o orgulho e abrir espaço para a vulnerabilidade, para dizer “desculpa”, “eu preciso de você”, “eu ainda te amo”. Quando um amor é verdadeiro, ele é como o sol: pode se esconder por detrás das nuvens, mas nunca deixa de estar lá.
Então, aqui estou, estendendo minha mão, disposto a caminhar ao teu lado. Vamos buscar juntos o brilho perdido, mesmo que isso signifique trilhar caminhos difíceis. Porque vale a pena. Porque o que construímos não é algo que o tempo possa apagar.
E, quando nosso amor brilhar novamente como no princípio, será ainda mais forte. Terá o brilho da maturidade, da superação, da certeza de que o amor não é uma linha reta, mas um constante recomeçar.
Nosso amor voltará a ser como no início, mas melhor. Porque agora sabemos que as tempestades vêm, mas o sol sempre volta. E quando ele brilhar em nós novamente, será como se o mundo inteiro pudesse ver que o amor verdadeiro nunca se apaga.