Por Kant de Voronha
A dor de sentir que o mundo caiu pode ser sufocante, como se cada esperança tivesse sido arrancada, e tudo o que resta fosse vazio e escuridão. Para ti, menina-mulher que carrega o peso de escolhas passadas e hoje busca, em lágrimas, o milagre de uma vida que te escapa, quero dizer: há uma esperança que nunca morre.
O coração, quando ferido, busca explicações: “Por que comigo? Será que Deus me abandonou?” Talvez o eco de decisões da juventude ainda te atormente, como uma sombra que insiste em permanecer. Abortos que pareceram solução num momento de desespero agora pesam como pedras, mas deixa-me te dizer: tua dor não é invisível, nem tua vida está condenada.
Deus, que conhece o íntimo de cada coração, não te julga como o mundo julga. Ele vê tuas lágrimas, ouve tuas orações, mesmo aquelas que fazes em silêncio, com medo de que alguém as escute. Ele é misericórdia. Ele é perdão. Como está escrito: “Eu te amei com um amor eterno; por isso com amor leal te atrai” (Jeremias 31,3).
Lembra-te de que a vida não é uma sentença irrevogável. Erros do passado não definem teu futuro. Sim, há marcas que talvez nunca desapareçam, mas essas marcas podem ser transformadas em lições, em caminhos de cura. Teus atos não são maiores que o amor e a graça de Deus. Não há pecado que Ele não possa perdoar, não há coração que Ele não possa restaurar.
Se procuras um filho, e esse sonho parece tão distante, não te desesperes. A maternidade, querida, vai muito além do ventre. Talvez Deus tenha outros planos para ti. Talvez Ele esteja te chamando para amar de maneiras que ainda não compreendes. Já pensaste em quantas crianças precisam de amor, de um colo, de alguém que as acolha como mãe, mesmo que não seja biologicamente? Há tantas formas de ser mãe, e cada uma delas é divina.
Mas, e se ainda acreditas que o teu ventre pode gerar vida, lembra-te de que o tempo de Deus não é o nosso. Ele pode fazer o impossível acontecer. Não percas a fé. Busca ajuda médica, confia no progresso da ciência, mas acima de tudo, confia na vontade divina. Como Sara, que na velhice recebeu o milagre da maternidade, nada está fora do alcance do Criador. Como diz a Palavra: “Para Deus, nada é impossível” (Lucas 1,37).
Se te sentes culpada, se a vergonha ainda te prende, deixa-me dizer: a culpa não é tua companheira, mas tua prisão. Liberta-te dela. Procura um padre, um conselheiro, alguém que possa te ouvir e te lembrar que em Cristo há renovação. A confissão não é um peso, mas uma porta para a paz interior.
E, acima de tudo, perdoa-te. Perdoar-se é o ato mais difícil, mas também o mais libertador. Entende que o que passou não pode ser mudado, mas pode ser transformado. Usa tuas dores para crescer, para ser mais compassiva contigo mesma e com os outros.
Não te deixes enganar pelo pensamento de que teu mundo caiu para sempre. Ele pode estar em ruínas agora, mas Deus é especialista em reconstruir o que parecia perdido. Ele é o oleiro, e tu és o barro em Suas mãos. Ele pode moldar algo novo, belo e cheio de propósito em tua vida.
Segura firme. Levanta-te, mesmo que aos poucos. Cada novo dia é uma nova chance. Um dia, encontrarás a paz que tanto buscas, e perceberás que, embora o passado não possa ser apagado, ele não tem o poder de destruir o futuro que Deus planejou para ti.
Lembra-te: tua história não terminou. Ela está apenas começando. Há amor, há vida e há graça esperando por ti. Confia. Teu mundo pode cair hoje, mas Deus sempre te dará forças para construir outro amanhã.