Por: Valdimiro Amisse
O silêncio de quem governa, quando a nação clama por justiça, é um grito assustador. O Presidente Filipe Nyusi, em tom conciliador, afirma que “não há motivo nem razão dos moçambicanos morrerem”. Palavras belas, que saem como bálsamo para uma ferida aberta, mas que se desmancham na realidade sangrenta de um país onde a violência policial continua a semear luto de Rovuma ao Maputo.
Não há motivo para morrer? Então, pergunto: por que continuam as balas a atravessar corpos inocentes? Por que mãos que deveriam proteger estão algemando e agredindo? Por que as ruas estão tingidas de sangue em vez de esperança? A ausência de motivos é uma afirmação tão vazia quanto as promessas eleitorais que nunca encontram chão para germinar.
Hoje, num gesto de “boa fé”, o chefe do Estado convocou os partidos políticos para buscar soluções para o caos político que consome Moçambique desde as eleições de 9 de outubro. Uma mesa que deveria ser o símbolo de unidade nacional, mas que revelou a fratura profunda da política: a Frelimo, o partido no poder, simplesmente não apareceu.
Quem tem medo do diálogo? Quem prefere o silêncio cúmplice ao invés de enfrentar a verdade? Será a ausência da Frelimo uma confissão de culpa? Ou será que, como tantos suspeitam, os mandantes desta crise estão mais confortáveis em manipular nos bastidores do que em expor-se à luz do debate público?
A ironia é cruel. Convoca-se ao diálogo “sem cores partidárias” num ambiente onde o vermelho da Frelimo continua a ditar as regras, mesmo quando se ausenta. Que “soluções” se esperam de um regime que não só vira as costas à oposição, mas também ao povo que afirma representar?
Os moçambicanos estão a morrer, e não é pela falta de motivos. Morrem porque o regime tornou-se incapaz de reconhecer suas próprias falhas. Morrem porque a polícia, braço armado do estado, se transformou numa máquina de repressão. Morrem porque a democracia em Moçambique é apenas uma palavra bonita em discursos protocolares, mas desprovida de substância.
Enquanto isso, o povo, esse que continua a enterrar seus mortos, pergunta-se: de que adianta um convite ao diálogo se os que têm o poder de mudar as coisas se recusam a comparecer? Não há razão para morrer, diz o Presidente, mas também parece não haver razão para governar com integridade.
A verdade é que as ausências falam mais alto do que qualquer discurso. Num país onde as manifestações são respondidas com balas e não com escuta, a ausência da Frelimo na mesa de diálogo é o retrato perfeito de um regime que não se importa. E assim, Moçambique sangra enquanto aqueles que deveriam ser os guardiões da pátria se escondem atrás do véu da conveniência política.
Até quando?
Ser pobre não é defeito