Por: Valdimiro Amisse
Já tive medo da morte, sim. Tremia só de pensar nela. Achava que era o fim de tudo, o escuro eterno. Mas hoje, não tenho mais medo. Porque a vida me ensinou que há coisas muito piores do que morrer.
Sabe o que é pior do que a morte? É viver de joelhos, aceitar a fome, a humilhação, a mentira. É ver gente rica pisar nos pobres como se fossem lixo, enquanto eles comem do bom e do melhor. Pior que a morte é viver sem voz, sem luta, sem esperança. Isso é morrer antes da hora.
A morte não me assusta. O que me assusta é a vida cheia de injustiça. É ver gente sofrendo nos hospitais, presa a máquinas e tubos, sem dignidade. É ver a pobreza esmagar sonhos e roubar o futuro. E o sistema ainda manda a gente aguentar, como se ser pobre fosse crime.
Eu não quero morrer assim, como um boneco, sem força, sem escolha. Quero que a morte me leve de pé, com a cabeça erguida. Não quero que ela me encontre mendigando um dia a mais, um respiro a mais, preso numa cama, feito um pedaço de carne que já não vive.
Dizem que a vida é sagrada, que a gente tem que lutar até o fim. Mas o que é vida, afinal? Vida não é só o coração batendo. Vida é sonho, é alegria, é a chama que nos faz levantar todo dia. Se isso se apaga, o que sobra? Um corpo vazio, uma casca sem alma.
A morte e a vida não são inimigas, não. São irmãs. A vida sabe a hora de ir, e a morte vem buscar. O problema é que a gente tem tanto medo que prefere sofrer e arrastar a existência, só pra não encarar o fim. Mas eu digo: pra quem já viveu o inferno aqui, a morte não é nada.
Eu não tenho medo da morte. Tenho medo de passar por essa vida sem fazer diferença, sem lutar, sem sonhar. Tenho medo de morrer em vida, aceitar as migalhas e calar a minha revolta.
Então, que a morte venha. Não vou correr dela. Vou enfrentá-la como enfrentei a vida: com coragem, com fúria, com verdade. Porque o que me assusta não é o fim. É viver como se eu já estivesse morto.
Ser Pobre Não É Defeito