Por: Valdimiro Amisse
Sr. Presidente, eu volto a dirigir-me ao senhor porque desta vez não para falar da campanha de cana de açúcar, pelo visto, na vossa bolha dourada, ninguém tem coragem de dizer as verdades. Mas não se preocupe, eu digo, alto e bom som, sem medo, porque o povo já perdeu tudo, até o medo.
Excelência, vamos ser diretos: o senhor demorou! Demorou para perceber que o país está em ruínas. Demorou para falar com o povo. Demorou para sentir o cheiro da miséria que consome as nossas ruas, das vidas esmagadas pela vossa máquina de repressão. Enquanto morremos aos montes, o senhor vem falar de viaturas, portos, aeroportos e vias de circulação? Vais comparar infraestrutura com vidas humanas? Tens mesmo coragem?
Excelência, 19 mortos, e o que dizes? Contas-nos uma história bonita, cheia de floreios, como se estivesses a falar para turistas, e não para um povo ferido. Maxaquene, Polana Caniço, Bagamoio, Namicopo, Quelimane, Waresta, Beira, Texlon… São vidas perdidas, Excelência, não são estatísticas, não são poeira que podes varrer para debaixo do tapete. São mães que choram, crianças órfãs, sonhos destruídos! E o que recebes em troca? O aplauso dos teus ministros e o silêncio dos teus bajuladores.
Falaste de vacinas? Qual vacina, Excelência? A que mata a fome? A que traz dignidade? A que transforma essa desgraça em futuro? Não, claro que não! Porque essa vacina só existe para os filhos da elite, que estão lá fora, a viver no luxo, com diplomas caros e vidas feitas. Enquanto isso, as nossas crianças crescem com fome, sem escola, sem futuro. Vacina para quê, se elas já nascem condenadas?
E as manifestações? Dizes que não seguimos as normas. Excelência, quais normas? As que a vossa polícia aplica a golpes de cassetete? As que deixam corpos estendidos no chão e mães a gritar por justiça? Ensina-nos então! Explica ao povo burro, ignorante e miserável como se deve manifestar sem apanhar porrada, sem ser preso, sem ser morto. Explica, porque parece que só a FRELIMO sabe como se faz, não é?
Chega de hipocrisia! O vosso discurso não bate com a realidade. Enquanto o senhor fala de paz e progresso, o povo vive em guerra com a fome, com a violência, com a desesperança. Enquanto o senhor celebra conquistas imaginárias, enterramos os nossos mortos, fugimos das balas e contamos migalhas para sobreviver.
Sr. Presidente, O senhor não governa, o senhor ocupa uma cadeira. E, já que gosta tanto de dizer que está a fazer o melhor pelo país, ouça isto: o melhor que o senhor pode fazer agora é sair. Saia antes que o povo tome o que é dele. Porque o senhor pode até ter o poder das armas, mas quem tem a força da indignação é o povo, e essa força não conhece limites.
A história não perdoará, Sr. Presidente. E o povo já não te perdoa. O senhor será lembrado, Sr. Presidente. Mas será lembrado como um dos piores líderes que Moçambique já teve.
Ser Pobre Não É Defeito