Por Kant de Voronha
A manhã desta quarta-feira (27/11/2024) ergueu-se com um som metálico, não de progresso, mas de protesto. Ali, no coração pulsante do mercado grossista de Waresta, os agentes informais de Nampula ergueram o punho e a voz, como quem diz: “Este comboio também é nosso!” Era o grito de um povo que já não suporta as promessas vazias, as urnas caladas pela força e as linhas que só levam riquezas, mas nunca a justiça.
O comboio da CLN, símbolo de uma riqueza que escorre pelos trilhos de Moçambique, encontrou seu destino interrompido. Não pela força de um obstáculo físico, mas pela vontade de um povo cansado de ser espectador do saque. Naquele instante, o mercado parou. As vozes comuns transformaram-se num coro de indignação: “Se não somos donos da riqueza, seremos donos da resistência”.
A partir das 8hs as ruas tornaram-se estátuas de carros estacionados, obedecendo ao apelo do candidato Venâncio Mondlane que é tido como Presidente do povo. A mensagem era clara: a paralisação não é apenas uma estratégia, mas um ato de coragem. Um apelo à verdade eleitoral, roubada como um tesouro de um baú que pertence a todos.
O comboio não partiu, mas o grito partiu barreiras. O silêncio da locomotiva ecoou como um trovão nos corredores do poder. Era mais do que um protesto; era um manifesto. Um povo que não quer ser espectador da sua própria história, mas autor das páginas futuras.
Por décadas, essas linhas férreas não carregaram apenas carvão, mas também o peso de uma promessa não cumprida. Prometeram desenvolvimento, mas entregaram desigualdade. Prometeram progresso, mas deixaram fome. Agora, cada cidadão se ergueu como um trilho vivo, dizendo: “Se esta terra é nossa, este comboio também será nosso!”
Aos olhos do regime, essas vozes podem parecer pedras no caminho. Mas, na verdade, são sementes lançadas no solo árido da injustiça, germinando uma nova esperança. São as mãos calejadas que carregam o peso da fome e da exploração, mas que agora ergueram o símbolo de um país que não quer mais ser silenciado.
Paramos o comboio porque a liberdade é maior que qualquer carga. Porque a democracia não pode ser embarcada como mercadoria. Paramos o comboio porque queremos um futuro que não seja apenas um trilho de riquezas que passa por nós, mas um destino onde todos tenham voz e vez.
Os trilhos da CLN cortam terras ricas, mas esquecem o povo. Os carros parados nas ruas de Nampula e do país são muito mais do que veículos; são monumentos de resistência. Cada motor desligado é uma voz que clama por justiça, por dignidade, por um Moçambique onde o voto tenha valor e onde o futuro não seja decidido em mesas de negociações obscuras.
E quando o sol se pôr e as ruas voltarem a mover-se, que fique a certeza: este comboio, que carrega a riqueza de Moçambique, não avançará sem o povo. A verdade é o trilho que nos conduz. O grito do mercado de Waresta ecoa por todo o país, mostrando que a locomotiva da justiça só partirá quando todos estiverem a bordo.
Neste momento, a luta não é apenas por eleições. É pela alma de Moçambique. E ao som das buzinas e das vozes firmes, fica a promessa: “Este comboio também é nosso. Não há trilho que nos cale”. E mais não disse!