Por: Valdimiro Amisse
Nós, o povo moçambicano, ajoelhamos em vergonha diante das memórias de André Matsangaissa, Afonso Dhlakama e Mariano Nhongo. Perdão! Perdão porque, cegados pela propaganda voraz da FRELIMO, nós os condenamos. Perdão porque nos fizeram acreditar que vocês eram bandidos e não visionários. Fomos enganados, amordaçados, e agora, depois de décadas de miséria disfarçada de liberdade, começamos a entender o que vocês tanto gritavam nas matas, com sangue e suor.
Enquanto éramos manipulados a odiá-los, a elite no poder enchia os bolsos, erguia mansões e distribuía os recursos naturais como se fossem herança pessoal. Contaram-nos que vocês queriam dividir o país, mas esconderam que eles já dividiam a riqueza entre os seus. Gritaram que vocês matavam o povo, mas calaram os genocídios silenciosos de fome e de analfabetismo.
Vocês tinham razão. Razão para se revoltarem contra um regime que desde a independência insiste em confundir libertação com opressão, que mata a esperança com as balas e enterra o futuro na vala comum da incompetência. Razão para tentarem uma revolução que nunca foi sobre partidos, mas sobre um povo sufocado que até hoje engole discursos vazios enquanto vê seus filhos morrerem com mosquitos que custariam centavos para prevenir.
Mas nós, tolos, acreditamos. Engolimos cada mentira. Aplaudimos cada palhaço que subiu ao palco do poder e gritava “viva o povo!” enquanto nos roubava até o último centavo. Nós os chamamos de heróis e chamamos vocês de traidores. Perdão!
Hoje, a FRELIMO governa como um predador sem remorso, e nós, dóceis ovelhas, estamos descobrindo que não existe democracia em que o dono das urnas é o mesmo que fiscaliza os votos. Estamos aprendendo que nenhum líder que mata jornalistas e persegue ativistas governa para o povo. E finalmente entendemos que vocês, Matsangaissa, Dhlakama, Nhongo, não eram nossos inimigos. O verdadeiro inimigo estava nos palácios, nas reuniões a portas fechadas, nos brindes com champanhe importado.
Por isso, imploramos perdão. Vocês não estavam lutando contra nós, mas por nós. Não queriam dividir o país, mas sim uni-lo sob justiça, dignidade e liberdade verdadeira. E nós os traímos, não com armas, mas com o silêncio de quem não quis ouvir. Com a passividade de quem aceitou as migalhas.
Olhamos hoje para trás e nos envergonhamos. Porque o que chamamos de liberdade é, na verdade, uma prisão de paredes invisíveis. Porque o que chamamos de independência é apenas a troca de senhores. Porque o que chamamos de progresso não passa de um carro novo para o dirigente enquanto os professores são pagos com atrasos e os hospitais viram necrotérios.
Matsangaissa, Dhlakama, Nhongo, perdoem-nos! Nós vos condenamos e, com isso, condenamos a nós mesmos. Que vosso sangue derramado não tenha sido em vão. Que vosso sacrifício, um dia, seja reconhecido como a chama que tentou iluminar um povo que insistia em caminhar na escuridão.
E a vocês, senhores da FRELIMO, bandidos disfarçados de libertadores, saibam que o tempo da mentira está contado. A verdade, embora tardia, sempre encontra seu caminho. E quando ela chegar, o povo que vocês oprimiram será o povo que vos julgará. E então, talvez, finalmente seremos livres.
SER POBRE NÃO É DEFEITO