Por Kant de Voronha
Num escritório, onde o som dos teclados se mistura ao tilintar das xícaras de café, existe uma presença que deveria inspirar, mas causa temor. É o chefe, aquele cuja voz ecoa pelos corredores, mas em vez de orientar, fere. A cada ordem lançada como flecha, a cada crítica cuspida como fogo, ele esquece que liderar é mais do que comandar — é cuidar.
Mas será que ele sabe? Será que entende que seus gritos não consertam erros, apenas quebram almas? Será que já notou os olhares cabisbaixos que se desviam quando ele passa? Será que já sentiu o peso de sua própria ausência nos corações daqueles que deveria motivar?
Uma equipa não é um exército de máquinas, programadas para obedecer sem questionar. São pessoas. E pessoas carregam sonhos, medos e esperanças. Quando um chefe grita, não é apenas o trabalho que sofre; é o espírito humano que se encolhe, é a criatividade que se cala, é a confiança que evapora.
Um bom líder não precisa levantar a voz para ser ouvido. Não precisa intimidar para ser respeitado. Não precisa humilhar para corrigir. Porque liderar é construir pontes, não erguer muros. É ouvir antes de falar. É guiar, não esmagar.
Imagine, por um momento, chefe, o impacto de suas palavras. Pense no jovem recém-contratado que tenta dar o melhor de si, mas vacila porque ainda está aprendendo. Ele não precisa de uma bronca; precisa de orientação. Pense na mãe que equilibra o peso de suas tarefas e o de uma casa cheia de responsabilidades. Ela não precisa de críticas severas; precisa de compreensão.
Seus gritos não são sinais de força; são evidências de fraqueza. Não é autoridade que transborda de sua voz, mas insegurança. Não é respeito que você conquista, mas medo. E o medo nunca construiu nada duradouro.
Quer ser lembrado, chefe? Quer que sua equipa trabalhe com paixão e não por obrigação? Então, mude a forma como usa sua voz. Transforme o tom áspero numa melodia de encorajamento. Substitua a crítica destrutiva por conselhos que edificam. Troque o grito pela conversa, o desprezo pela empatia.
E, se necessário, olhe para dentro de si. Pergunte-se: Por que sou assim? O que estou tentando provar? Talvez você descubra que também carrega feridas que nunca foram curadas, dores que se disfarçam de autoridade. Talvez você veja que, ao ferir os outros, tenta esconder o quanto se sente vulnerável.
Mas saiba que é possível mudar. Sempre é. Um líder não nasce pronto; constrói-se a cada dia. E o respeito verdadeiro, aquele que enche os olhos e não os obriga a se abaixar, só é conquistado quando se lidera com humanidade.
Lembre-se, chefe: o verdadeiro poder de um líder está em inspirar, não em impor. Está em transformar sua equipa numa família, onde cada um se sente valorizado, onde cada erro é uma oportunidade de aprendizado, onde cada voz tem o direito de ser ouvida.
A escolha está em suas mãos. Você pode continuar a gritar, alimentando um ciclo de medo e mediocridade. Ou pode decidir que, a partir de hoje, será a diferença. Será o líder que todos desejam seguir, não porque precisam, mas porque querem.
E, quando esse dia chegar, você não precisará gritar para ser ouvido. Sua voz será um farol, guiando os outros, e, mais importante, tocando os corações que antes apenas se calavam. E mais não disse!