Por: Valdimiro Amisse
Excelências, permitam-me saudá-los como vocês gostam: com o título que tanto exige genuflexões. Afinal, “Excelência” é um nome que traduz a distância que criaram entre vocês e o povo. Mas hoje não quero apenas bajular. Quero tocar nas feridas que vocês, Excelências, insistem em esconder sob o manto da hipocrisia.
Excelências, por que morreis em hospitais do estrangeiro? Por que não ousam confiar nas “maravilhas” que dizem criar dentro deste solo pátrio? Ah, eu entendo… Vocês não confiam naquilo que vocês mesmos construíram. Sabem que os hospitais que ostentam em discursos não passam de armadilhas para o pobre. Sabem que neles faltam medicamentos, médicos qualificados e dignidade. Não é acaso que, quando a morte se aproxima, fogem como ratos, deixando o povo entregue à sua própria sorte.
E não faltam exemplos para ilustrar esta verdade cruel. Vamos lembrar, Excelências, de alguns dos vossos colegas que encontraram a morte fora do país, longe do mesmo povo que um dia confiaram em vocês:
1. Oldemiro Balói (antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique). Foi tratado na África do Sul, onde a saúde é “menos gratuita” e “mais eficiente”, mas Morreu aos 66 anos.
2. Mário da Graça Machungo: ex-primeiro-ministro de Moçambique, faleceu aos 79 anos em fevereiro de 2020, em Lisboa, Portugal, também encontrou seu último suspiro fora de Moçambique. Por quê? Porque aqui falta confiança no sistema que vocês próprios dizem construir.
3. Alberto Massavanhane: primeiro presidente do Conselho Municipal de Maputo, faleceu aos 63 anos em setembro de 1993, em Estocolmo, Suécia. Morreu sob cuidados fora do país. Porque sabia que Moçambique não oferece uma chance de sobrevivência sequer para os que têm poder.
4. Fernando Faustino, também morreu fora do celeiro de Moçambique.
5. Daviz Simango (Embora não FRELIMO, morreu na África do Sul) – Até quem lutou contra o regime percebeu que os hospitais daqui só oferecem dor e negligência.
Vocês dizem que estão “trabalhando duro” para melhorar a saúde. Enquanto isso, hospitais sem medicamentos, sem máquinas de raio-X funcionais e com filas intermináveis são a realidade para a mãe grávida, o jovem acidentado, e o idoso que simplesmente quer morrer com dignidade. E o povo? Este morre em casa, nos corredores dos hospitais, em filas que nunca terminam. É este o país que vocês dizem amar?
Enquanto gastam milhões em viagens ao estrangeiro, em hotéis de luxo e consultas com especialistas que o povo jamais verá, aqui, a saúde pública é um reflexo do vosso desprezo. O povo morre porque vocês escolheram viver com o privilégio que roubaram. O povo agoniza porque para vocês é mais fácil abandonar os hospitais do que transformá-los.
Excelências, até quando?
Até quando, Excelências, continuarão a se esconder nas clínicas de luxo da África do Sul, Portugal, ou Índia, enquanto Moçambicano morre de febre? Até quando irão preferir tratamentos de milhões enquanto uma simples injeção de antimalárico falta nos centros de saúde?
O título de “Excelência” não os salvará da história, Excelências. O povo está a despertar, e talvez chegue o dia em que vossos nomes sejam sinônimos de traição. Moçambique não precisa de Excelências que fogem na hora da morte. Precisa de líderes que vivem e morrem com o povo.
SER POBRE NÃO É DEFEITO