Por Kant de Voronha
Na cidade de Nampula, entre as ruas poeirentas e o brilho quente do sol, Joaquim era conhecido por sua audácia. Ele não tinha apenas uma mulher. Não, isso seria comum demais. Joaquim geria duas. Para ele, a vida era um tabuleiro de xadrez, e as mulheres, peças que ele movia a bel-prazer. Uma esposa dedicada, mãe dos seus filhos, e uma jovem amante cheia de sonhos que acreditava em suas promessas vazias.
Mas um dia, o tabuleiro virou. A esposa mais velha, desconfiada das desculpas esfarrapadas e dos horários quebrados, decidiu segui-lo. Foi na Rua das Palmeiras, perto do mercado Waresta, que o viu: Joaquim montado em sua motorizada, com uma mulher ainda mais jovem abraçada à sua cintura. O sangue subiu-lhe à cabeça como fogo.
Ela gritou seu nome, com uma voz que cortou o ar como um trovão:
— Joaquim! É isso que andas a fazer?
O tumulto foi imediato. A jovem amante, ao ouvir o grito e perceber a presença da esposa, saltou da motorizada como quem foge de uma guerra. Correu sem olhar para trás, deixando Joaquim ali, apavorado, sem saber se deveria seguir a amante ou enfrentar o furacão que havia se formado.
A esposa avançou, lágrimas queimando seu rosto, e, com o dedo em riste, despejou toda a dor que carregava no peito:
— Eu te dei tudo! Minha juventude, minha confiança, meu coração. E é assim que me pagas? Traindo-me na frente de todos?
Joaquim, o “gestor de mulheres”, ficou sem palavras. O mercado Waresta parou para assistir ao espetáculo. E a esposa, tomada pelo desespero, desatou a chorar, não lágrimas comuns, mas lágrimas que pareciam sangue. Era sua alma gritando pela traição que não conseguia suportar.
Desde aquele dia, a esposa nunca mais foi a mesma. Anda pela cidade com os olhos baixos, como se carregasse o peso de um mundo que perdeu o brilho. Amigos tentam consolá-la, mas ela permanece inconsolável, mergulhada numa depressão que Joaquim ajudou a construir com sua infidelidade.
Ele, por sua vez, vive assombrado pelo que viu naquele dia. As lágrimas de sangue da mulher que mais o amou são o testemunho da sua traição, um peso que ele não consegue tirar dos ombros. Joaquim percebeu, tarde demais, que fidelidade não é prisão, mas liberdade. Liberdade de ser honesto, de construir algo verdadeiro, de ser digno da confiança de quem está ao seu lado.
Agora, a lição ecoa: homens como Joaquim, que acreditam ser reis em reinos divididos, acabam sentados em tronos de areia. O respeito e a confiança são tesouros que não podem ser multiplicados. Se você, leitor, está tentado a espalhar-se em várias vidas, lembre-se de Joaquim e das lágrimas da esposa. Seja fiel. Não pelo outro, mas por você mesmo. Porque amar verdadeiramente é escolher ser inteiro, e não dividido. E mais não disse!