Por Kant de Voronha
As ruas estão bloqueadas, e com elas, o pulso económico de Moçambique. O trânsito caótico que antes movia mercadorias, pessoas e sonhos está agora silenciado por barricadas e manifestações. A mensagem é clara: o povo descobriu que, ao fechar as ruas, pode paralisar o coração financeiro da nação.
As palavras do Presidente Filipe Nyusi ecoam com preocupação: “Se a situação persistir, teremos dificuldades para pagar salários aos professores e enfermeiros”. Essa frase, que deveria convocar à reflexão, soa como um alerta sombrio. O país está à beira de um abismo, onde o funcionamento das instituições depende de um fluxo económico que foi abruptamente interrompido.
Mas de quem é a culpa? Muitos apontam para os manifestantes, que encontraram na interrupção das atividades económicas uma poderosa arma de pressão. Outros acusam a FRELIMO e o governo, cuja má gestão e corrupção alimentaram um barril de pólvora agora em combustão. No meio desse caos, empresas fecham, mercados definham, e as receitas diárias que sustentam o país evaporam como água no deserto.
A economia moçambicana, fragilizada por décadas de decisões políticas duvidosas, não possui reservas para aguentar tamanha pressão. Dependente de receitas imediatas, o Estado vê-se encurralado. Sem o dinheiro que circula nas ruas e alimenta os cofres públicos, a máquina administrativa enferruja. A suspensão de salários para trabalhadores essenciais, como professores e enfermeiros, não é apenas uma ameaça; é uma realidade iminente.
As manifestações, embora legítimas em sua origem, revelam uma nova dinâmica de poder. Fechar as ruas não é mais apenas um ato de desobediência civil; é uma forma de governar. Cada barricada levantada simboliza o controle de um povo sobre os destinos de uma economia que não mais o representa. Os manifestantes entenderam que, sem transporte, comércio e indústria funcionando, não há Estado que resista.
O problema, contudo, vai além da disputa política. O país inteiro caminha para uma crise sistêmica. Sem salários, não há professores para ensinar, nem enfermeiros para cuidar dos doentes. Sem mercados, os preços dos alimentos disparam, e a fome se torna um inimigo tão real quanto a repressão policial. O que começou como um clamor por justiça eleitoral ameaça mergulhar o país numa recessão devastadora.
A pergunta que todos evitam responder é: até quando? Até quando as ruas continuarão fechadas? Até quando o governo resistirá à pressão popular? Até quando o povo aceitará as promessas vazias de um sistema que finge não ouvir seu desespero?
Moçambique está diante de uma encruzilhada histórica. Se as ruas são o símbolo de resistência, a economia é o preço que todos pagam por mudanças que ainda parecem distantes. O caminho de volta será difícil, mas a mensagem das ruas não pode mais ser ignorada: o povo já não aceita ser governado sem governar.
E se as ruas permanecerem bloqueadas, não será apenas o trânsito que estará parado, mas o futuro de uma nação inteira.