Por Kant de Voronha
Moçambique está em chamas. Não são labaredas de esperança, mas o fogo da revolta popular que consome o medo, a resignação e as roupas vermelhas da FRELIMO. O símbolo do poder de cinquenta anos tornou-se uma sentença. Ser identificado como frelimista é carregar um alvo nas costas, um fardo pesado demais em tempos de fúria coletiva.
Nos bairros, a figura outrora temida dos secretários locais agora se dissolve em pânico. Eles, que já foram intermediários do poder, são perseguidos como se fossem os únicos arquitetos de uma miséria que sufoca milhões. Suas casas ardem, suas pertenças são reduzidas a destroços, e suas vidas, antes blindadas pela hegemonia, tornaram-se vulneráveis.
Os militantes da FRELIMO são caçados sem trégua. O vermelho que antes significava vitória, agora é a cor do ódio. Ninguém está imune. Não importa se é dirigente, funcionário de base ou simpatizante, todos estão condenados pelo tribunal popular que se instaurou nas ruas. Esta é a sentença: décadas de corrupção, nepotismo e promessas vazias culminaram em uma saturação insustentável.
E tudo começou em 9 de outubro, quando o país foi às urnas mais uma vez. Mas desta vez, algo mudou. A vitória autoatribuída pela FRELIMO não convenceu. Venâncio Mondlane, sob a bandeira do PODEMOS, ergueu-se como o escolhido do povo, ao menos na percepção dos manifestantes. A narrativa de fraude não é mais apenas uma suspeita; é uma certeza para os milhões que tomaram as ruas.
Agora, Moçambique vive um caos inédito. Não é mais apenas uma crise política; é uma revolução. Trinta anos de eleições marcadas por disputas e contestação chegaram ao ápice. Pela primeira vez, o povo não aceita esperar pelos tribunais ou pelo Conselho Constitucional. As palavras “justiça” e “Conselho Constitucional” são recebidas com risos sarcásticos nas manifestações. E quem pode culpá-los? Quantas vezes a verdade foi enterrada sob montanhas de papéis oficiais, protegida por muros de silêncio institucional?
A corrupção, antes sussurrada, agora é berrada em todas as esquinas. Os manifestantes não estão apenas contra um partido, mas contra um sistema que tornou a FRELIMO sinónimo de saque, privilégios e perpetuação no poder.
Para onde vai Moçambique? Essa é a pergunta que ecoa entre as barricadas e as casas incendiadas. Pode a FRELIMO aceitar a derrota e permitir um novo capítulo para o país? Ou o poder se tornou tão intoxicante que preferem levar a nação ao colapso completo, como um navio que afunda com seu capitão?
Os dias que virão serão decisivos. Mas uma coisa é certa: o povo moçambicano não tem mais medo. E o poder da FRELIMO, outrora incontestável, está agora sob julgamento nas ruas, onde não há advogados, nem tribunais; apenas a voz de um povo que grita por mudança.
A revolução chegou. Não é organizada, nem programada, mas é real. E sua mensagem é clara: Moçambique não aceita mais viver sob a sombra de um passado que prometeu liberdade e entregou opressão.