Por Kant de Voronha
Há fogo nos céus de Moçambique. O som das chamas devorando os comités, as esquadras e as casas ressoa como um grito de um povo que já não aguenta o peso da opressão. Nas estradas bloqueadas, pneus ardem como tochas de um luto que ninguém mais consegue conter. E o país, outrora chamado Pátria Amada, parece agora à beira de uma guerra que pode devorar sua alma.
Quo vadis, Moçambique? Para onde caminhas, terra de Eduardo Mondlane, de Samora Machel e de tantos outros que sonharam com liberdade? As barricadas que se erguem nas rodovias, os autocarros virados, as sedes vandalizadas – tudo parece anunciar o nascimento de uma nova convulsão, uma segunda guerra civil que já não divide apenas regiões, mas também corações e mentes.
As ruas, agora campos de batalha improvisados, se tornaram a arena de um conflito silencioso por décadas, mas hoje gritante. De um lado, manifestantes munidos de indignação e coragem; de outro, forças de segurança com armas reais e ordens para reprimir. Entre eles, o povo – esmagado, ferido, sangrando, mas ainda de pé.
O que alimenta esse caos? É o grito por uma verdade eleitoral há muito sufocada, escondida entre relatórios, urnas e cifras. Venâncio Mondlane e o partido PODEMOS reivindicam o mandato da nação, enquanto a FRELIMO, com 50 anos de hegemonia, se recusa a aceitar a derrota. Será que o Conselho Constitucional ousará desfazer a trama do poder, desagradar a elite dominante e entregar o país ao novo?
O desespero nas ruas não é apenas político; é existencial. Não são apenas sedes que ardem; são esperanças que se consomem em cinzas. Cada barricada erguida é um símbolo de um povo que não acredita mais nas instituições. Cada esquadra atacada é um recado de que a força bruta já não intimida os que não têm mais nada a perder.
E o que faz a FRELIMO? Ao invés de ouvir os clamores da nação, responde com balas e violência. Seus militantes são caçados, seus líderes aterrorizados, suas estruturas reduzidas a pó. É como se o partido estivesse provando do mesmo veneno que espalhou por décadas: o medo que aprisiona e a revolta que nasce dele.
Quo vadis, Moçambique? Será que estamos diante de uma oportunidade de renascimento ou de destruição? Será esta convulsão o prelúdio de uma revolução que devolverá o poder ao povo, ou o anúncio de uma guerra que nos lançará no abismo?
Olhamos para trás e vemos os ideais de independência sequestrados por uma elite que enriqueceu às custas de uma nação empobrecida. Olhamos para frente e vemos um horizonte turvo, onde o que está em jogo não é apenas a democracia, mas a própria sobrevivência de Moçambique como uma pátria una e indivisível.
Mas há uma pergunta que arde mais do que qualquer edifício em chamas: a verdade eleitoral virá? Será que o Conselho Constitucional, no ápice da sua missão histórica, terá a coragem de dizer ao povo que sua voz foi ouvida? Ou preferirá o caminho da submissão, condenando o país a décadas mais de repressão e injustiça?
Moçambique está num ponto de viragem. O fogo nas ruas é um reflexo do fogo nos corações. As barricadas são um símbolo de uma nação que clama por mudança. E enquanto o futuro permanece incerto, uma coisa é certa: a paz não virá sem justiça, e a justiça só será possível se a verdade for respeitada.
Quo vadis, Moçambique? A resposta está nas mãos de quem detém o poder, mas o peso recai sobre os ombros do povo. Que os gritos das ruas não sejam em vão, e que esta terra encontre finalmente o caminho de volta para os sonhos de seus heróis.