Por Kant de Voronha
Há promessas que inflamam a alma de um povo. Há palavras que, ditas em praça pública, ressoam como trovões em meio à tempestade de incertezas. Venâncio Mondlane, ou VM7, como é agora chamado, se ergue como o profeta de uma nova era, proclamando que tomará posse como Quinto Presidente de Moçambique a 15 de janeiro de 025. Suas palavras, poderosas e simbólicas, ecoam com a mesma intensidade da promessa de Moisés ao povo de Israel: “Caminharemos até a terra prometida, onde o leite e o mel jorram sem cessar.”
Mas enquanto Moisés enfrentava o deserto físico, Mondlane encara outro tipo de deserto – o das instituições corroídas, das forças de defesa hostis, e de uma elite política que se recusa a largar o cetro que empunha há meio século.
O Caminho para a Ponta Vermelha
Mondlane, como Moisés, assumiu a liderança de um povo fatigado. Mas, diferentemente do profeta bíblico, ele não tem um cajado que separa mares. Sua travessia para a “Ponta Vermelha”, sede do poder político em Moçambique, não será feita com milagres, mas com estratégia, coragem e sacrifício. Contudo, até agora, a estrada permanece enevoada.
A tentativa de 7 de novembro passado fracassou. A multidão, fervorosa, marchou em busca de justiça, mas foi silenciada por balas e cassetetes. A travessia para a terra prometida ficou adiada, e Mondlane, o “Moisés moçambicano”, viu-se frente ao Mar Vermelho das forças de defesa, que se ergueram como uma muralha entre ele e seu destino.
Promessa ou Delírio?
“Tomarei posse em 15 de janeiro”, declara ele, como quem desafia faraós modernos. Mas o que sustenta essa promessa? A visão de Mondlane tem ecos messiânicos, mas carece de detalhes práticos. A multidão pergunta: Como ocupará a presidência num país onde os donos do poder ainda não abriram mão do trono?
Moisés teve de enfrentar não apenas o faraó, mas também a descrença de seu próprio povo. Mondlane enfrenta um dilema semelhante. Cada dia que passa sem ações concretas alimenta dúvidas. Será que ele tem uma estratégia? Ou será apenas mais um visionário cujas promessas se dissipam como poeira no vento?
A Fúria das Praças
Enquanto isso, as ruas queimam. Moçambique está à beira de uma segunda guerra civil. A resistência contra a hegemonia da FRELIMO tornou-se feroz. Sedes partidárias ardem, forças de segurança são atacadas, e as barricadas das manifestações se tornaram trincheiras de uma guerra invisível.
Mondlane prometeu liberdade e igualdade, mas as promessas não bastam para conter a fúria do povo. Moçambique não precisa apenas de um Moisés; precisa de uma liderança capaz de transformar revolta em reconstrução, ódio em esperança.
Uma Nova Travessia
A travessia para a terra prometida de Mondlane não será apenas política. Será moral, cultural e económica. Não se trata apenas de tomar posse da Ponta Vermelha, mas de devolver o poder ao povo. Trata-se de enfrentar os gigantes que dominam o país: corrupção, desigualdade, e o colapso institucional.
E se Mondlane falhar? Como Moisés, pode não cruzar o Jordão e apenas vislumbrar a terra prometida de longe. Mas, como profeta, ele já iniciou uma jornada que não pode ser interrompida. Se não for ele a liderar o povo para a liberdade, talvez outro venha. Talvez, enfim, o Moçambique que todos sonharam, desde Eduardo Mondlane até Mahamudo Amurane e Elvino Dias e Paulo Guambe, se torne realidade.
A Esperança de Janeiro
Enquanto 15 de janeiro se aproxima, as perguntas permanecem: será Mondlane o líder que transformará Moçambique, ou apenas mais uma figura a ser tragada pelo deserto político?
A travessia é longa, mas o povo caminha. Em cada praça, em cada rua, ressoa um grito de liberdade. Moçambique pode estar à beira do caos, mas também está à beira de sua redenção. Que o dia 15 seja não apenas uma data no calendário, mas o início de uma nova era. Porque, como disse Mondlane: “Tomarei posse como presidente eleito.” Que assim seja.