Por Kant de Voronha
Ontem (23/12), em Maputo, o Conselho Constitucional pôs um ponto final na esperança de milhões ao validar os resultados de uma eleição marcada pela desconfiança. O dia 9 de outubro último ainda está fresco na memória do povo moçambicano, um marco que deveria simbolizar mudança, mas que se tornou sinónimo de frustração. A validação da vitória de Daniel Francisco Chapo e da FRELIMO, longe de pacificar, acendeu o pavio do caos.
A decisão, carregada de um simbolismo sombrio, foi mais que uma declaração jurídica. Foi um golpe mortal na verdade eleitoral, uma guinada abrupta em direção ao abismo. Ao invés de escutar o clamor das urnas, onde a esperança depositada pelos eleitores pedia por transformação, o Conselho Constitucional escolheu reforçar o regime, mantendo no poder aqueles que há décadas dirigem o destino de Moçambique como se fosse uma propriedade privada.
A imagem é clara: um sistema em alta rotação, com o turbo ligado, esmagando qualquer vestígio de dignidade popular. O “TURBO V8 ULTRA” é a metáfora para o avanço desenfreado do autoritarismo, um regime que silencia, reprime e avança sobre os direitos fundamentais com a força brutal de um motor desgovernado.
Enquanto isso, nas ruas, a revolta ecoa. Jovens em barricadas, cânticos de protesto e a destruição de símbolos do regime são a expressão do descontentamento que pulsa de Norte a Sul. As forças de repressão, armadas com munição real, confrontam cidadãos desarmados, numa tentativa desesperada de manter a ordem à custa do sangue do próprio povo.
Mas, em meio ao caos, o espírito de resistência emerge com força. A validação dos resultados não apaga os gritos de quem sonha com um Moçambique mais justo. Não silencia a memória de heróis que deram suas vidas por uma nação livre. Ao contrário, fortalece a certeza de que a luta pela verdade eleitoral é também uma luta pela dignidade, pela justiça e pelo futuro de uma geração.
O Conselho Constitucional talvez tenha esquecido que regimes forjados na repressão e na mentira não duram para sempre. O turbo da opressão pode ser potente, mas a força de um povo determinado a mudar o curso da história é mais poderosa. E enquanto houver quem lute, quem grite e quem resista, o destino de Moçambique não será ditado pela repressão, mas pelo clamor legítimo da sua gente.
Ontem foi validada a mentira, mas a revolução já está nas ruas.