Por Kant de Voronha
Dizem que quem ganha celebra. Mas em Moçambique, o silêncio grita mais alto do que qualquer rojão. A FRELIMO e Chapo foram declarados vencedores pelo Conselho Constitucional, e o país deveria estar tingido de vermelho, numa onda de festa que percorresse ruas, bairros e praças. Mas onde está a euforia? Onde estão os cânticos, os tambores e as multidões erguidas em júbilo?
Talvez seja o espírito natalino, dirão alguns. Talvez estejam, como Maria, guardando tudo no coração, meditando silenciosamente a “graça” de mais um mandato conquistado. Mas a verdade é outra, e ela se revela no olhar abatido de quem, mesmo com a vitória, sabe que o peso da desconfiança é maior do que qualquer vitória oficial.
As cidades de Maputo, Nampula e Beira, principais capitais do país, ao invés de vibrar com a vitória, tremem com o caos. Em vez de cânticos, ouvem-se gritos de protesto. As barricadas não foram desmontadas, as ruas ainda exalam o cheiro de pneus queimados, e os sorrisos que deveriam marcar a vitória se perderam em rostos endurecidos pelo cansaço e pela revolta. Se ganhar é motivo de alegria, por que o povo parece tão distante da celebração?
Talvez porque, no fundo, todos saibam que o que foi validado ontem não foi uma vitória, mas uma imposição. O Conselho Constitucional pode ter legitimado os resultados, mas não conquistou o coração dos moçambicanos. A vitória de Chapo e da FRELIMO é como um presente de Natal mal embrulhado, cujo conteúdo o povo já conhece: mais do mesmo. Mais repressão, mais desigualdade, mais promessas que não se cumprem.
A ausência de festa é a prova de que o verdadeiro vencedor de uma eleição é o povo. E neste momento, o povo não sente que ganhou. Pelo contrário, sente-se esmagado, traído, e confinado num ciclo de injustiças. Quem ganha não reprime; quem ganha não teme. E, no entanto, o que se vê são forças de segurança multiplicando-se nas ruas, jovens perseguidos, líderes comunitários silenciados, e um país que, ao invés de celebrar, lamenta.
Talvez seja mesmo Natal. Talvez os vencedores estejam tentando refletir em silêncio, guardando no coração a consciência de que vitória arrancada à força não tem sabor de conquista. Mas não nos enganemos: a ausência de festa é também a presença de resistência. E resistência é o prenúncio de mudança.
Moçambique está em silêncio, mas é um silêncio que prepara o grito. Um grito que, quando romper, exigirá mais do que promessas. Exigirá a devolução daquilo que foi roubado: a verdade eleitoral, a justiça social, e a esperança de um futuro melhor. Afinal, se a vitória fosse legítima, o país inteiro estaria em festa.