Por Kant de Voronha
O Natal chega, mas no meu país, Moçambique, a paz não veio com ele. As ruas, que deveriam ecoar risos e canções de esperança, são palco de gritos, de lamentações, de vidas partidas por um caos que se agrava, a cada novo amanhecer. Depois das eleições de 9 de outubro e da validação dos resultados pelo Conselho Constitucional (23/12), a ferida aberta pela injustiça sangra ainda mais. Famílias se despedem de seus filhos com lágrimas que deveriam ser reservadas à alegria natalina. O que deveria ser um tempo de união tornou-se um cenário de barricadas, perseguições e medos.
O presépio moçambicano, neste ano, não tem lugar para pastores ou magos. Em vez disso, há jovens descalços, caminhando em busca de uma verdade que lhes é negada. No lugar do Menino Jesus, vemos o luto de um povo que enterra seus mortos em silêncio, vítimas de balas que não deveriam ter sido disparadas. Há mães que choram pelos filhos que saíram às ruas e nunca mais voltaram. Há pais que enfrentam o desespero de ver sua terra queimada por uma elite insaciável, enquanto o povo luta por um Moçambique de todos e para todos.
Mas o Natal, mesmo em meio ao caos, nos convida a não desistir. A manjedoura simples nos lembra que a revolução começa no mais humilde dos lugares, no coração dos que não se rendem ao medo, no espírito dos que acreditam que o amanhã pode ser diferente. O nascimento de Cristo, em meio à perseguição e à pobreza, é o sinal de que, mesmo nas trevas, a luz prevalece.
Meu Povo de Moçambique, este caos não define nosso destino. A revolução não é violência, mas a força de um povo unido que não abandona sua dignidade. Lembremo-nos de que a luta pela verdade não pode ser sufocada por armas ou ameaças. Assim como os pastores e os magos seguiram a estrela até Belém, nós seguimos a esperança de um país onde o Natal não será mais manchado pela injustiça.
Por mais sombria que seja a noite, o Natal nos garante que a luz sempre virá. A paz parece distante, mas ela nasce primeiro em nossos corações, em nossas mãos que se unem, em nossas vozes que clamam. Não desistamos. Este caos é temporário, mas nossa luta por justiça é eterna.
Que este Natal, ainda que envolto em lágrimas, renove nossa fé e nossa força. Porque um Natal sem paz é um caos, mas um povo sem esperança é o verdadeiro desastre. E nós, moçambicanos, somos herdeiros da coragem e da resistência. Que a estrela de Belém nos guie, e que o grito por justiça e paz ecoe em cada canto deste país. Um dia, Moçambique será o lar de todos os seus filhos. Abençoado Natal em todas famílias moçambicanas.