
Por Mussa Mphavara
Mais uma vez, o governo da FRELIMO revela o distanciamento que mantém do povo que diz representar. Desta vez, pelas palavras do novo Ministro da Saúde, Ussene Isse, somos forçados a engolir o discurso de que a greve no setor da saúde “não é ética”. Ética? É isso mesmo que o Ministro quer discutir? Pois bem, vamos falar de ética, mas de forma nua e crua.
A primeira lição de ética deveria ser dada pelo próprio governo. Um governo que não honra os compromissos básicos com seus trabalhadores, negando-lhes o 13.º salário e empurrando-os para uma greve legítima, não tem moral para cobrar juramentos profissionais ou discursos de compaixão. Afinal, quem garante o bem-estar do profissional que atende ao juramento? Será ético trabalhar de estômago vazio, com dívidas acumulando e sem dignidade?
O Ministro, de forma simplista, clama que “independentemente do salário, chuva ou questões políticas”, os profissionais da saúde devem cuidar dos doentes. Pois bem, sr. Ministro, talvez o senhor não saiba que quem cuida de doentes precisa de condições mínimas para cuidar de si mesmo e de sua família. Quem disse que o juramento do médico ou do enfermeiro é uma licença para exploração?
O governo da FRELIMO, ao longo dos anos, mostrou ser uma máquina eficiente na arte da promessa vazia e da perpetuação da miséria. O discurso de “paciência” é velho e desgastado. Já não convence mais ninguém. Enquanto pedem paciência aos trabalhadores, os luxos das elites continuam intactos. Será que também pedem paciência para cortar os seus próprios privilégios? Ou será que isso não entra na lista de esforços que o governo promete fazer?
A crise pós-eleitoral, mencionada como desculpa para a reformulação do Orçamento do Estado, é mais um retrato da incompetência e da corrupção que têm definido a gestão da FRELIMO. A luta pelo 13.º salário é justa e necessária. Não se trata apenas de um direito legal, mas de uma questão de sobrevivência para milhares de famílias moçambicanas que sustentam o país com o suor do seu trabalho.
E se é para falar de ética, vamos falar também da ética de um governo que sufoca a população com promessas que nunca se cumprem. Da ética de dirigentes que pedem paciência ao povo enquanto vivem em mansões e carros luxuosos, bem distantes das dificuldades diárias de quem carrega o sistema de saúde nos ombros.
Se os profissionais da saúde, professores e funcionários públicos são obrigados a parar, não é por falta de ética, mas por desespero. A greve não é apenas um direito constitucional; é uma ferramenta legítima de luta contra a exploração e a indiferença de um regime que não prioriza o bem-estar do povo.
Ministro Ussene Isse, a ética começa em casa. Antes de apontar o dedo para os trabalhadores, olhe para o governo que o senhor representa. Será ético negar salários a quem trabalha duro? Será ético viver no luxo enquanto a maioria luta para sobreviver? Será ético sacrificar o povo para manter o poder?
O juramento dos profissionais da saúde é cuidar dos doentes, sim. Mas o juramento do governo deveria ser cuidar dos cidadãos. Infelizmente, enquanto este governo continuar a governar para si mesmo e não para o povo, o sistema continuará doente. E, no final, quem realmente precisa de ética é a FRELIMO, não os trabalhadores em greve.